OPINIÃO JOGO ABERTO: 27/01/2017
“A nova leva de milionários brasileiros tem Eike Batista como ídolo, trabalha muito, compete honestamente, orgulha-se de gerar empregos e não se envergonha da riqueza”. A afirmação estampava a capa da revista “Veja” em janeiro de 2012, ilustrada por uma enorme foto do empresário brasileiro.
Pouco mais de um anos antes, outra foto gigante de Eike ocupava a capa de outro semanário nacional: “Os 100 brasileiros mais influentes em 2010”, dizia a edição especial da “Época”. Durante mais de uma década, Eike Batista foi adorado, vendido e alardeado como o exemplo do “self-made man” tupiniquim. Um herói da meritocracia. Bem-nascido e mais ainda bem-relacionado, morou na Europa, onde começou (mas não terminou) uma faculdade de engenharia, e foi investidor voraz, ousado, insaciável. Criou empresas – todas com a marca X – em mais de uma dezena de setores diferentes (de energia, naval, de mineração, de alimentação, de esportes, de tecnologia e de imóveis, entre outros).
Mas, há algum tempo, os milagres e as asas desse ícaro do empresariado brasileiro já não batiam com a mesma força, apesar ainda do status de grande homem de negócios. As ações de suas inúmeras empresas começaram a despencar da mesma forma, misteriosa e rápida, com a qual se multiplicaram. A imprensa e os milionários entusiastas com a saga de Eike ultimamente questionavam a origem e a concretude de seus multiempreendimentos.
Um novo capítulo da história de Eike começou a ser revelado – em 2011, ele lançou uma biografia escrita em parceria com o jornalista Roberto D’Avila: “O X da Questão: A Trajetória do Maior Empreendedor do Brasil”. “Com 23 anos ele tinha US$ 6 milhões. Poderia ter parado e ido para a praia, mas continuou”, comentou D’Avila à época. E Eike continuou mesmo. De acordo com a Polícia Federal, em apenas um dos esquemas em que é investigado, o empresário teria pagado US$ 16,5 milhões de propinas ao ex-governador do Rio Sérgio Cabral, preso em Bangu, acusado de uma série de crimes de corrupção.
A PF ainda não relevou a moeda de troca entre Cabral e Eike, mas a gestão do ex-governador fluminense (2007 a 2014) coincide com a ascensão do império X. Vale lembrar: políticos corruptos quase sempre precisam de empresários igualmente corruptos para prosperar. E muitos desses bem-sucedidos homens de negócios brasileiros, apesar do prontuário policial, estavam ou ainda estão a posar em revistas, dar palestras motivacionais de como vencer na vida ou criticar políticas públicas voltadas para reduzir a pobreza no Brasil.
Marcelo Odebrecht, por exemplo, até 2014, figurava com destaque no Fórum de Davos, na Suíça, um dos principais eventos da agenda da economia mundial, como uma jovem liderança global e um dos inovadores na criação de parcerias público-privadas.
por Marco Aurélio