OPINIÃO JOGO ABERTO: 21/03/2017
Ao sabor do acaso
Os nomes, as idades e as datas do desaparecimento aparecem em impressos afixados no interior dos ônibus e nas contas de luz e água enviadas à população. E é só, basicamente, o que a sociedade fica sabendo sobre o que está sendo feito para encontrar as pessoas desaparecidas.
Por trás desses lacônicos comunicados, desenrola-se uma enorme tragédia social e humana. Nos últimos três anos, milhares de pessoas desapareceram no país. Gente de todas as idades, mas principalmente crianças e jovens.
Entre 2015 e 2016, os indivíduos com idades entre 0 e 17 anos eram 43% do total. A maioria era constituída de meninas: 5.196, contra 2.764 meninos. Mas entre os desaparecidos há também um número expressivo de pessoas idosas e outras com problemas mentais.
No país são poucas delegacias especializadas nesse tipo de ocorrência. Nos municípios, o atendimento é feito por repartições da Polícia Civil e da Polícia Militar.
Até 2013, os registros eram feitos em papel. Desde 2014, os novos casos são postados no site da delegacia, que hoje ostenta milhares de registros de desaparecimentos. Para atender essa demanda, as delegacias contam com poucos investigadores e delegados.
Se cuidassem só dos desaparecimentos de crianças e jovens, cada investigador teria a seu encargo 25 casos. A polícia procura agir imediatamente ao registro do sumiço, mas depois amolece. Porém, o caso não sai nunca de pauta, dependendo do surgimento de novas pistas.
A lei não considera o desaparecimento um crime. Este já recebe pouca investigação do Estado. Depende da condição social da vítima ou do autor. O maior investimento é centrado na polícia ostensiva. Os desaparecimentos estão em último lugar na lista de prioridades.
Humildes, os familiares de desaparecidos detectam isso quando reclamam da pouca atenção com que são atendidos pelas autoridades.
por Marco Aurélio