OPINIÃO JOGO ABERTO : 20/04/2017
Nenhuma articulação política terá força para desviar foco da Lava Jato Apesar de prováveis equívocos, responsáveis, por exemplo, pela juntada, num mesmo barco, de gregos e troianos (o ministro Edson Fachin revelou a colegas que há pedidos de investigação, pela Procuradoria Geral da República, de casos já prescritos), jamais terá sucesso articulação para impedir, conter ou atenuar a operação Lava Jato.
A diferença entre os que praticaram caixa 2 e os que cometeram crimes mais graves, à luz de nossa legislação penal, será acertada agora, no decorrer do processo de cada investigado, no STF ou no juizado comum. Os brasileiros estão muito bem-informados pelos canais de comunicação social.
Saberão separar o joio do trigo, como saberão impedir que a crise por que passa o país se agrave ainda mais, em consequência das polarizações radicais, obviamente inconciliáveis. Fez bem o ex-presidente Fernando Henrique quando afirmou, na última segunda-feira, que não participou de articulações com o presidente Michel Temer e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para impedir ou driblar a operação Lava Jato: “Não participei e não participo de qualquer articulação com o presidente Temer e o ex-presidente Lula para estancar ou amortecer os efeitos das investigações da operação Lava Jato. Qualquer informação ou insinuação em contrário é mentirosa”, concluiu FHC em uma das redes sociais.
O ex-presidente Lula nada disse por enquanto, mas o presidente Temer também a negou: “Não participo, não promovo e jamais fui perguntado a respeito disso”. O que mais deve afligir-nos, nessa crise política, ética, moral, social e econômica, das mais graves por que já passou o país, além do sofrimento dos mais pobres, é o risco que corre nosso regime democrático. Que tem apenas 32 anos, mas que vem demonstrando resistência diante de solavancos como o das delações de 76 ex-executivos da Odebrecht (incluindo-se dois presidentes), prestadas por profissionais convencidos, cinicamente, de que só faziam o que o “jogo” lhes impunha.
Caminhemos, pois, na Lava Jato, mas dentro do Estado democrático de direito, único capaz de propiciar a realização da justiça, que deve ser, aliás, nossa verdadeira, única e indesviável meta. Por outro lado, o que igualmente nos leva a refletir é a posição assumida pela classe política (de modo geral) em favor da negação peremptória diante de autênticas obviedades.
Logo ela que, como fênix, e para o bem do país, precisa urgentemente renascer das cinzas a que foi condenada pela maioria dos brasileiros. Pois, como se sabe, sem política e sem políticos, nunca haverá democracia e liberdade. Por que os políticos não se anteciparam aos delatores e contaram ao MPF o que sempre ocorreu, com menor ou maior grau, em nosso velho processo eleitoral? Por que não o fazem agora contando a verdade? Os cartéis – político e empresarial – não têm vitoriosos.
Todos são derrotados, embora, entre os empresários, pontifiquem corruptores que se consideram patriotas porque prestaram relevante serviço ao país… Deixo para sua reflexão, estas palavras oportunas do papa Francisco, tão aplaudido nas redes sociais, mas, certamente, muito pouco compreendido pelo povo cristão: “Peço a Deus que cresça o número de políticos capazes de entrar num autêntico diálogo, que vise efetivamente sanar as raízes profundas, e não a aparência dos males do nosso mundo.
A política, tão denegrida, é uma sublime vocação, é uma das formas mais preciosas da caridade, porque busca o bem comum”.
Por : Marco Aurelio