OPINIÃO JOGO ABERTO: 08/03/2017
Teatro eleitoral
Os depoimentos dos primeiros executivos da Odebrecht ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) fazem muito mais que manchar de vez a reputação da presidente deposta Dilma Rousseff (PT) e complicar a situação de seu ex-colega de chapa e hoje presidente da República, Michel Temer (PMDB). As horas de conversas com o ministro Herman Benjamin, vazadas na imprensa, dizem muito sobre nosso sistema eleitoral e trazem enorme constrangimento à Corte Eleitoral.
Mostram que as prestações de contas de campanhas são fictícias e que o órgão que controla as eleições no Brasil não possui os mecanismos para impedir que candidatos abusem do poder econômico em doações camufladas que garantam vitórias e, futuramente, bases parlamentares sólidas para os vencedores.
Percebam quão grave é saber que a revelação do caixa 2 nas campanhas de Dilma Rousseff e de Michel Temer se deu quase por acaso, e não pela solidez dos mecanismos de fiscalização da Justiça Eleitoral. Recapitulando: a apuração da lavagem de dinheiro em um posto de gasolina pela operação Lava Jato levou a um doleiro utilizado por políticos, que acabou levando a um diretor da Petrobras. De sua delação surgiram notícias do maior escândalo da história da política brasileira, no qual propinas eram pagas, em outras maneiras, por doações eleitorais feitas por baixo dos panos. Só a partir disso e de diversas delações o assunto chegou ao conhecimento do TSE. Ainda assim, pode não dar em nada.
Não é de hoje que se suspeita de que grande parte do dinheiro movimentado nas campanhas passa longe das vistas da Justiça Eleitoral. Não foi apenas com a chapa de Dilma e Temer. Pelo pouco que já se sabe dos depoimentos e de outras delações da Lava Jato, foram pagos recursos não contabilizados nas campanhas dos principais adversários da chapa PT-PMDB: Aécio Neves (PSDB), Eduardo Campos (PSB) e, posteriormente, Marina Silva (na época PSB e, hoje, Rede). Todos negam, claro. Como negavam também os delatores de hoje quando eram meros delatados por outros peixes grandes apreendidos pela rede da Lava Jato.
A planilha de Benedicto Barbosa, com nomes de centenas de políticos, ajuda a contar essas histórias de desvios de conduta nas contas públicas em eleições municipais e estaduais. Se não houvesse ali uma busca e apreensão na casa do sujeito, centenas de políticos estariam livres de qualquer suspeita.
Nos próximos dias fará um ano que as planilhas foram encontradas. Até agora não se sabe o que era doação legal e o que era ilegal por lá. Não há qualquer investigação no TSE. Ainda está tudo no âmbito da Lava Jato. Os eleitos em 2014 completarão seus mandatos sem problemas. Para piorar, há diversos casos de doações reveladas para eleições anteriores àquela. Casos de gente que cumpriu o mandato inteiro sem ser importunado-a.
E não bastará o fim das doações de empresas que passou a valer no último pleito. O dinheiro, pago no exterior, em caixas de dinheiro, camuflados em nome de outros, continuará jorrando por baixo dos panos. Pouco importa a regra para quem não a cumpre.
por Marco Aurélio