OPINIÃO JOGO ABERTO : 02/05/2017
Pagar pra ver.
A greve ocorrida na última sexta-feira e que parou o país está sendo vendida de diferentes formas pelos que a analisaram. As redes de TV e o resto da imprensa, com posição exaustivamente taxada como reacionária e conservadora, evidenciaram as depredações do patrimônio público e privado, a baderna, a violência dos manifestantes, o incêndio de veículos particulares e coletivos de transporte de passageiros. Destacaram ainda a completa ausência de discursos e reivindicações em torno dos quais se norteassem as citadas manifestações e seus participantes. Houve quem dissesse também que da greve se aproveitaram aqueles que queriam mais do que um fim de semana ampliado apenas pelo feriado de segunda-feira; com a greve, fechados os bancos, grande parte do comércio e da indústria, muitos tiveram estendido seu descanso para quatro dias.
O saldo é o de prisões, de muita coisa danificada, de gente agredida pelas polícias e de nenhuma aparente perspectiva de revisão, até o momento, do projeto que se acha aprovado pela Câmara. Essa realidade realçou como quase única preocupação dos 17 mil sindicatos existentes no Brasil a perda que terão, se o Senado nada mudar, da contribuição sindical que lhes assegura considerável receita.
Mal-introduzida pelo governo, pessimamente discutida na Câmara e parcialmente contestada pelos sindicatos, a reforma trabalhista de novíssimo e considerável, seguindo como está, afetará mais significativamente a vida dos sindicatos e de seus dirigentes. Sem a contribuição sindical, acabará a farra custeada pelo dinheiro fácil, somas gigantescas que migram para seus caixas com o desconto de um dia da remuneração de todo trabalhador brasileiro.
Por parte dos que valorizaram a greve, a análise foi a de que a classe trabalhadora reagira às consequências que a reforma poderá imprimir nas relações de trabalho. Férias fatiadas, homologação de demissões no ambiente das empresas, retirada da soma de horas trabalhadas daquelas gastas pelo empregado para deslocar-se de sua casa até a empresa empregadora, quando tal transporte for o oferecido pelo empregador.
Os sindicatos prometem seguir na sua luta, com a ameaça das centrais sindicais de que o quadro de sexta-feira fora apenas uma pequena amostra da reação que os trabalhadores poderão empreender, se a reforma assim se consolidar. Há também quem diga que amargando, o trágico número de mais de 14 milhões de desempregados, as demandas dos trabalhadores passam a quilômetros de distância do que gritam as lideranças sindicais. Os próximos dias dirão. É pagar pra ver.
Fonte : Por Marco Aurelio