OPINIÃO JOGO ABERTO: 02/03/2017
E tudo pode não terminar na Quarta-Feira de Cinzas
O que está dito no título fica para o final destas linhas, pois o que interessa agora é dizer que o Carnaval, mesmo sem os elogios “oficiais”, provenientes da massa especialista, que estima um público milhões de participantes, o maior da história, distribuídos muitos blocos, foi de fato insuperável. Nunca houve folia mais animada do que a que terminou madrugada de hoje.
A melhor expectativa é a de que o movimento financeiro tenha sido recorde, superando em 22% o apurado no ano passado. É verdade, também, que a ocupação foi ajudada pela queda da diária, que, obviamente, funcionou como mais um atrativo destinado aos turistas.
A impressão que o Carnaval deste ano me deixou, no país todo, foi a seguinte: o que de fato ocorreu foi um enorme desabafo, manifestado por um povo saturado de tantas notícias desabonadoras. Que, diga-se de passagem, se iniciaram muito antes deste governo, que poderá ter um dos finais mais terríveis, senão trágico, depois que os colaboradores da Odebrecht prestarem seus depoimentos. Foi, também, a afirmação de que a alegria por aqui jamais desaparecerá.
Segundo o antropólogo Roberto DaMatta, “o Brasil é Brasil por causa do Carnaval. A afirmação parece trivial, mas não é. Nem todo mundo conheceu o Brasil dos imperadores, dos escravos e das ditaduras. Dos atos institucionais e, hoje, das pantagruélicas roubalheiras e do neofacismo, que liquida amizades, mas o Carnaval continua. Talvez mais do que qualquer outra instituição, o Carnaval nos certifica de uma continuidade nacional. O Carnaval é a maluquice que ninguém ousou mudar ou roubar. Porque ele, carnavalescamente, roubaria o ladrão”.
Não serão fáceis os dias que sucedem essa Quarta-Feira de Cinzas, que ocorre 40 dias antes da Páscoa, sem contar os domingos, entre fevereiro e março. As cinzas, para os católicos, são consideradas símbolo de reflexão sobre a conversão, sobre a mudança de vida, mas, mais que tudo, são a lembrança viva de que somos frágeis e transitórios. Trata-se de um período de jejum, oração e penitências. Termina no Domingo da Ressurreição, quando se celebra a ressurreição de Jesus, depois de sua crucificação no Calvário, próximo a Jerusalém.
A partir de agora, certamente, e após o presidente Michel Temer assistir à queda de seus “quatro mosqueteiros” – Yunes, Jucá, Geddel e Padilha –, inicia-se um autêntico “calvário” para os políticos ainda não molestados pelo duro tacão da operação Lava Jato.
É preciso que venham logo a público os nomes de todos os implicados. Só assim se poderá separar, quem sabe, o joio do trigo, pois não há dúvida de que os “malfeitos ou crimes” têm graduação.
O presidente Temer, que chegou a pensar em “notáveis” em seu governo, acabou cedendo à “regra” que diz que, para se governar, tem que se ter maioria no Congresso. Usou, então, as armas de que dispunha. E deu no que deu. E, agora, ainda se vê às voltas com o processo que trata da cassação da chapa Dilma-Temer.
Haja cinzas!
por Marco Aurélio