OPINIÃO JOGO ABERTO : 17/05/2017
Presidente decorativo!
Um ano depois de assumir o Palácio do Planalto, o presidente Michel Temer (PMDB) vive uma situação “sui generis”. Em um curto período, mesmo sem a força do voto popular, tem levado adiante pautas absolutamente complexas e discutidas há anos. Sem entrar no mérito das reformas, fato é que fazê-las sair do lugar no Congresso é feito que nem os governos mais populares conseguiram. Embora seja hoje pouco provável aprovar a reforma da Previdência mesmo picotada, o êxito no ambiente parlamentar é inegável. A votação da reforma trabalhista na Câmara e a aprovação da terceirização irrestrita, do teto de gastos e das contrapartidas aos auxílios aos Estados mostram que a tinta da caneta de Michel Temer faz o governo acontecer.
É preciso reconhecer que aquele que se disse um dia um “vice decorativo” hoje é, de certa forma, também uma autoridade que os brasileiros consideram apenas passageira e sem grande importância no futuro do país. Temer ocupa a principal cadeira da política brasileira, mas hoje é menos relevante que Lula, Sergio Moro, Jair Bolsonaro, João Doria ou Gilmar Mendes, só para ficar em alguns. Completando um ano no posto, está longe das manchetes. Poucos dão importância ao que fala, exceto quando comete gafes em discursos. Não se vê ninguém enxergar que a sucessão ao Palácio do Planalto passe por ele. Nem mesmo acredita-se que o presidente vá tentar uma reeleição. Basta olhar os cenários principais das pesquisas. Temer nem é incluído. Ele aparece, com votação pífia, apenas em cenários alternativos. Quando Fernando Henrique Cardoso chamou o governo de Temer de uma “pinguela”, houve reclamações no PMDB e no entorno do presidente, mas o tucano tinha razão. Temer parece realmente algo passageiro na política brasileira atual. Na melhor das hipóteses para ele, se aposentará e será esquecido em poucos meses. Na pior, ainda terá que enfrentar os tribunais por fatos anteriores ao mandato já revelados pela Lava Jato.
Quem se uniu a ele pode até ter conseguido cargos e vantagens por certo período, mas todos os que assumiram funções no governo parecem hoje menores do que antes. Qual ministro agora é mais respeitado do que antes de assumir uma função na Esplanada? Qual líder partidário ganhou pontos por apoiar o peemedebista? O PSDB, maior dos aliados do Palácio do Planalto, já mediu isso até em pesquisas. Dois terços dos eleitores que o abandonaram o fizeram por conta do apoio às reformas e, consequentemente, ao governo atual.
O experiente cacique peemedebista Renan Calheiros também percebeu logo que estar ao lado de Temer seria um fardo a mais para carregar alguém que, hoje, tem poucas chances de conseguir uma reeleição ao Senado. Com a Lava Jato nos calcanhares, optou por se descolar do colega peemedebista por uma questão de sobrevivência política.
Um ano depois de assumir o comando do país, Temer já representa algo antigo, e quem está com ele tem dificuldades de enxergar um futuro. Assim, até mesmo as manifestações contra seu governo parecem ter perdido força. Ainda que só 4% dos brasileiros o apoiem, a grande maioria do povo já parece estar pensando em 2018, como se Temer já fosse passado.
Fonte : Por Marco Aurelio