OPINIÃO JOGO ABERTO : 04/05/2017
‘Que se vayan todos!’
Em 2001, quando a Argentina vivia sua crise mais aguda, um lema surgiu nas manifestações populares. Diziam os cartazes: “Que se vayan todos”. A frase representava de forma objetiva o sentimento de repulsa dos argentinos. Diante do tamanho da crise, a vontade geral era de que todos os políticos renunciassem aos seus mandatos e uma verdadeira depuração do sistema fosse iniciada.
Recentemente o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) declarou que é preciso separar os ilícitos de caixa 2 e corrupção. A delação da Odebrecht nos mostra de forma inequívoca que além destes ilícitos, usou-se também a doação oficial para escoar verbas sujas para os cofres de praticamente todos os partidos. Diante do espanto geral em Brasília, Aécio Neves declarou “Todo mundo vai ficar no mesmo bolo e abriremos espaço para um salvador da pátria? Não, é preciso salvar a política”.
Este foi o sentimento geral em Brasília. Com a criminalização da doação oficial abastecida com recursos ilícitos, iniciou-se uma operação de salvamento para, como disse Aécio, “salvar a política”. Que sabemos que significa, do latim, “salvar a classe política”. Não se iludam, pois este movimento conta com o apoio de praticamente todos os partidos, de qualquer ideologia.
A hecatombe que deve chegar ao Congresso pode dizimar lideranças e acabar com os pilares que sustentam a democracia, dizem os atuais políticos. Portanto, não seria possível uma criminalização geral, uma vez que todo o sistema de financiamento eleitoral dos partidos era abastecido pelo mesmo modelo, agora considerado criminoso. A saída é criminalizar alguns atos e considerar algumas práticas ilícitas somente a partir do próximo pleito, o que criaria uma espécie de anistia para os atuais parlamentares.
Todo este movimento nasceu na semana que passou com o carimbo de “reforma política”, que pretende inserir no pacote esta série de medidas, que nascem reformulando o sistema eleitoral e financiamento de campanhas e deságuam em anistias que forneceriam sobrevida aos políticos já eleitos com recursos ilícitos.
Mas diante destas articulações, o sentimento que começa a tomar conta dos brasileiros lembra muito o que vimos na Argentina. Cresce um movimento, entre líderes de segmentos da sociedade, para que os políticos com mandato em curso não sejam reeleitos, com a ressalva para aqueles que apoiam incondicionalmente a operação Lava Jato. Diante do tamanho do susto que as urnas aplicaram na classe política em 2016, é bem provável que este movimento ganhe força e consiga resultados expressivos nas próximas eleições.
Enquanto o sistema atual acredita que representa o mais importante pilar que mantém nossa democracia em funcionamento, a população prepara seu troco. Muitos parlamentares provavelmente não voltam para Brasília nas próximas eleições. “Que se vayan todos” – estejam preparados para este movimento inspirado pelos hermanos.
Fonte : Por Marco Aurelio