OPINIÃO JOGO ABERTO: 26/03/2017
Panos quentes
O governo brasileiro está muito preocupado com a repercussão internacional da operação deflagrada pela Polícia Federal que detectou a comercialização, no mercado interno, de carnes com certificados fraudados.
A preocupação tem razão de ser. Em seguida ao escândalo, países compradores da carne brasileira pediram explicações ao governo. Outros suspenderam as importações ou impuseram restrições a nossas exportações.
Custou muito construir o prestígio de que a carne brasileira gozava até então. Somos o principal exportador mundial de carne bovina. Depois da soja e do ferro, ela é o terceiro produto de exportação do Brasil.
Perdas serão inevitáveis. Estima-se que elas cheguem a US$ 3,5 bilhões por ano, afetando o PIB dos próximos anos, dependendo de como trataremos o problema e como será construída a recuperação de nossa imagem.
A reação do governo não tem sido, porém, adequada à gravidade da situação. O assunto está sendo tratado como se os casos fossem pontuais e a Polícia Federal tivesse generalizado as irregularidades encontradas.
Em confirmação disso, o Ministério da Agricultura suspendeu a licença de exportação de 21 frigoríficos sob investigação. Contudo, eles poderão continuar a comercializar seus produtos no mercado interno.
Oitenta por cento da carne brasileira é consumida internamente. Ou o governo tem confiança exagerada em nossa indústria, ou não está preocupado com a saúde de nossa população, mas com o mercado externo.
O presidente da República afirmou que “uma ou outra” das 853 mil remessas in natura teria problemas. Do ponto de vista da saúde pública, nenhuma remessa, nem interna, nem externa, poderia apresentar irregularidades.
Os fabricantes dizem que cumprem todas as regras sanitárias básicas. Se é assim, seu parâmetro é o mínimo, quando deveria ser o máximo. O caso pode ser tanto uma excepcionalidade como a ponta de um iceberg.
por Marco Aurélio