Visão de Fato – 27 de Fevereiro de 2025

Pé-de-meia ou pé na jaca?
Por Paulo Cruz
“Foi ensinado aos professores que devem ser ʻtolerantesʼ também com os erros e a única nota realmente ʻdemocráticaʼ tornou-se o aprovado […]. A ideia de fundo é que todo trabalho tem algum valor e que não se pode distinguir entre uma categoria de esforço e outra, e assim é descartada qualquer distinção entre quem se esforçou ou não.” Repensar a educação)
Lula está desesperado. Com a última pesquisa Datafolha, que apontou a queda de sua popularidade a níveis jamais imaginados (por esquerdistas, pelo menos), o presidente apelou para a única coisa que sabe fazer bem: populismo barato – ou melhor, caro, caríssimo para o nosso bolso. Apareceu em rede nacional para anunciar dois programas de transferência de renda, mantendo a tradição petista de dar soluções simples – estúpidas até – para problemas complexos e, com isso, tentar voltar às graças da população mais pobre, reféns preferenciais de seu projeto de poder.
Os dois programas – que já existem, diga-se – foram anunciados naquela linguagem rasteira, de quem quer fingir proximidade com o público-alvo: “Meus amigos e minhas amigas, venho aqui para falar de dois assuntos muito importantes. Uma dupla que não é sertaneja, mas que está mexendo com o Brasil: o Pé-de-Meia e o novo Farmácia Popular”. Ou seja, num ano de imensos desafios econômicos provocados pela condução desastrosa de Fernando Haddad, o governo decide gastar dinheiro como se não houvesse amanhã para melhorar sua popularidade.
Começando pelo Farmácia Popular, programa que, inclusive, já sofreu denúncias do Tribunal de Contas da União (TCU) por fraudes, e custará ao orçamento R$ 3,6 bilhões. Óbvio que se trata de um programa necessário, mas que está sendo ofertado sem levar em consideração as consequências dos gastos envolvidos. Como diz o editorial de ontem, dessa Gazeta do Povo: “Com a popularidade em queda – queda livre, alguns haverão de dizer – e a inflação devorando o poder aquisitivo do brasileiro mais pobre […], o presidente Lula dá mostras de que fará exatamente aquilo que mais se temia: apostar em mais irresponsabilidade econômica para tentar conseguir resultados de curto prazo enquanto sacrifica de vez o médio e longo prazo”. Ou seja, teremos de pagar essa conta uma hora.
O Pé-de-Meia tem, segundo o site da excrescência, seu objetivo é “democratizar o acesso e reduzir a desigualdade social entre os jovens, além de fomentar a inclusão educacional e estimular a mobilidade social”. O que isso significa no mundo real creio que ninguém saiba, mas, na propaganda, “democratizar o acesso” significa manter o maior número dos 4 milhões de alunos nas salas de aula. Fazendo o quê, não importa. O importante é que, no computo da frequência escolar, o gráfico de algum burocrata apareça verde. Porque, no fim das contas, o que tem ocorrido é que alunos passam de ano e saem da escola sem saber nada.
A Progressão Continuada, que, em teoria, foi extinta no estado de São Paulo em 2007, continua a todo o vapor. A aprovação automática é uma realidade e eu mesmo já vi alunos serem aprovados mesmo não tendo alcançado o rendimento mínimo em praticamente todas as disciplinas. A única maneira de se reprovar no ensino público, em São Paulo, é por faltas; ainda assim, somente se o Conselho Tutelar não encontrar o aluno até o fim do ano letivo. Caso o encontre, a qualquer tempo, os infames trabalhos de compensação de ausências resolvem o problema. Não é só uma vergonha, é uma verdadeira tragédia.
Já “reduzir a desigualdade social entre os jovens” significa distribuir R$ 6 bilhões a adolescentes que nem sequer precisam tirar notas boas. Como diz o presidente: “todo mês, o aluno que comparece às aulas recebe R$ 200. Se fizer o Enem, ganha mais R$ 200, também, num valor total que pode chegar a R$ 9,2 mil”. O rendimento escolar está absolutamente excluído da equação. E Lula comemora a sandice: “E olha que legal: mais de 90% dos jovens que estão no programa passaram de ano. Essa ação extraordinária está ajudando mais de 4 milhões de jovens a permanecerem na escola, melhorando a qualidade do ensino e aumentando a renda da família”. Sim, passaram de ano, mas não foram aprovados, pois aprovação exige mérito; e falar em mérito num país comandado pela esquerda é ofensa. E Lula chama isso de “melhorar a qualidade do ensino”.
Fora todas as implicações que existem em dar dinheiro nas mãos de adolescentes sem qualquer contrapartida, há, obviamente, a possibilidade de que esse dinheiro nem sequer fique com eles, mas seja usado para suprir as necessidades imediatas da família. Num país em que 70% da população ganha até dois salários mínimos, como evitar que isso ocorra? Sem contar que tem aluno gastando o dinheiro do Pé-de-Meia em bets como o Jogo do Tigrinho. Como diz matéria da Agência Pública, “alunos beneficiados pelo Pé-de-Meia estão se viciando e usam o dinheiro para fazer apostas on-line”.
E Lula termina seu discurso naquele costumeiro ufanismo que os populistas adoram usar e abusar: “Depois de dois anos de reconstrução de um país que estava destruído, estamos trabalhando muito pra trazer prosperidade para todo o Brasil, principalmente para quem mais precisa”. Um verdadeiro tapa em nossa cara e uma amostra da irresponsabilidade sádica de um governo que está completamente perdido e condenando a sua população à pobreza, à burrice e à dependência de gente desqualificada para governá-la.