Circo no meu país
Por Rodrigo Constantino
“Não estávamos aqui para fazer circo. Não vou permitir que faça circo aqui no meu tribunal”, disse o ministro Alexandre de Moraes durante julgamento desta segunda sobre o suposto golpe de Estado. O ministro estava incomodado pois as respostas do general Freire Gomes não batiam com a narrativa criada pelo próprio STF com ajuda da velha imprensa.
O documento “golpista” apresentado tratava de GLO ou estado de sítio? Mas essas não são coisas previstas… na própria Constituição? Até o Jornal Nacional, talvez em ato falho, admitiu que esses mecanismos são constitucionais. Que golpista é esse que leva aos seus comandantes a avaliação de artigos da Constituição para verificar se são ou não aplicáveis? Freire Gomes não afirmou que Filipe Martins foi quem apresentou a “minuta golpista”, o que também prejudica a narrativa oficial. E sobre o comandante da Marinha, Freire Gomes disse o óbvio: não tem como inferir suas intenções ao se colocar à disposição do comandante em chefe das Forças Armadas, o então presidente Jair Bolsonaro.
O procurador-geral da República, Paulo Gonet, questionava Freire Gomes sobre o posicionamento do almirante Almir Garnier dos Santos durante as reuniões para tratar do suposto golpe que ele teria presenciado. Freire Gomes afirmou que Garnier tinha se colocado “à disposição” do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Gonet então questionou se isso incluía medidas fora da normalidade democrática, ao que Freire Gomes respondeu que não tinha como saber.
Na sequência, o ministro Alexandre de Moraes interferiu e pressionou Freire Gomes, alegando que ele estaria mentindo. “Se mentiu na polícia, tem que dizer que mentiu na polícia. Não pode agora dizer que não lembra. É general e foi comandante, está preparado para lidar com tensão. Solicito que antes de responder, pense bem. Ou falseou na polícia ou está falseando aqui”, disse Moraes.
Após a intervenção, Freire Gomes ponderou que não tinha como saber com que intenção ou em que medida Garnier estava se dispondo a colaborar com Bolsonaro. E disse que nunca mentiu em 50 anos. A velha imprensa chamou de “bronca” o que disse Alexandre de Moraes ao general da reserva, mas para todo cidadão honesto o nome certo é intimidação mesmo, chantagem, ameaça. O mesmo que fez Moraes com Mauro Cid, quando ameaçou prender até seu pai ou sua mulher caso o tenente-coronel não confirmasse aquilo que o ministro desejava ouvir.
No “meu” tribunal tem que ser assim, ora bolas! E o Brasil segue, impotente, assistindo a derrocada total de nossas instituições graças aos verdadeiros golpistas que recolocaram o ladrão na cena do crime. Fizeram do Brasil um circo, um estado de exceção. Destruíram o meu país!