Cetamina, em suas diversas formulações, é, provavelmente, a medicação aprovada para o transtorno depressivo maior resistente ao tratamento que mais mudança trouxe no prognóstico dessa condição nos últimos tempos. A medicação apresenta efeitos expressivos e rápidos e alguns indícios sugerem que com eficácia semelhante a eletroconvulsoterapia (ECT), sem os inconvenientes relacionados à memória dessa última.

Leia mais: Buprenorfina versus metadona para tratamento de dependência de opioides

Em março de 2019, a escetamina intranasal, que tem o nome comercial de Spravato, utilizada conjuntamente com um antidepressivo convencional foi aprovada pelo Administração de Alimentos e Medicamentos dos EUA (FDA) para adultos com transtorno depressivo resistente ao tratamento e em agosto de 2020, o FDA aprovou a aprovação da escetamina intranasal para adultos com transtorno depressivo e ideação/comportamento suicida.

Apesar do uso crescente, interesse e divulgação da escetamina, há preocupações legítimas da comunidade científica sobre sua eficácia a longo prazo, segurança, tolerabilidade, perfil de paciente para o uso e risco de infecção de transtorno por uso de substâncias.

spravato

Como o Spravato funciona

Acredita-se que o antagonismo NMDA – especificamente no sítio de canais abertos da fenciclidina (PCP) constitui o principal alvo hipotético para explicar os efeitos antidepressivos da cetamina. A cetamina causa uma explosão imediata de liberação de glutamato a justa após o bloqueio dos receptores NMDA.

O glutamato que é liberado nessa explosão estimula os receptores AMPA, enquanto a cetamina está bloqueando os receptores NMDA. Sua ação sobre sítios de opioide µ é hipotetizada como necessária ao efeito terapêutico, mas não é suficiente para explicar individualmente a ação antidepressiva.

O efeito terapêutico da cetamina seria justificado por uma melhora na plasticidade neuronal através da facilitação da sinaptogênese e potencialização sináptica (há uma hipótese neurotrófica da depressão, onde a resposta aos antidepressivos estaria ligada a restauração de deficiências em fatores neurotróficos como fator neurotrófico derivado do cérebro ( BDNF) e fator de crescimento do endotélio vascular (VEGF)).

Como e quando usar

O Spravato deve ser usado em conjunto com antidepressivo oral. Cada dispositivo de Spravato® conta com 28 mg de dose e indicador que permite o controle correto se a dose foi ou não controlado. Para tratamento de depressão resistente, na fase de indução, as doses variam entre 56 e 84 mg (escolhas conforme clinicamente recomendadas, excetuando-se a primeira sessão que é realizada com a dose de 56 mg), administradas duas vezes por semana, por quatro semanas.

Na fase de manutenção – a partir da semana 5, a dose é mantida e a administração feita uma vez por semana. A partir da nona semana, a frequência pode ser reduzida para uma vez a cada duas semanas e individualizada até a menor frequência necessária para manter a remissão/resposta.

No transtorno depressivo com ideação suicida, a dose é de 84 mg, realizada duas vezes por semana, por quatro semanas. Caso haja perda de sessões com piora dos sintomas clínicos na fase de manutenção, recomenda-se retornar ao esquema da fase de indução. Não é necessário ajustes de dose para função renal e hepática.

Veja também: Como diagnosticar TDAH em adultos?

A administração é realizada em um serviço de saúde com supervisão de profissionais qualificados. Os pacientes são monitorados no mínimo por duas horas após a aplicação da medicação, com aferições periódicas de sinais. Os efeitos colaterais mais comuns são náusea, sedação, dissociação e aumento pressórico.

A medicação é contra-indicada em casos de aneurismas (incluindo aorta torácica e abdominal, vasos arteriais intracranianos e periféricos) ou malformação arteriovenosa e história de hemorragia intracerebral. Ela também não é indicada em idosos acima de 65 anos. Pacientes com sintomas psicóticos são considerados de risco para administração da medicação.

Selecione o motivo:

Errado

Incompleto

Desatualizado

confuso

Outros

Sucesso!

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo.

Você avalia esse artigo

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

autor

Médica pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Residência em Psiquiatria pela Universidade de São Paulo (USP). Mestranda em Psicologia Social pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (IP-USP). Psiquiatra Assistente do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo (HU-USP).

Referências bibliográficas:Ícone de seta para baixo

  • Bula do Spravato®. Disponível em: https://consultaremedios.com.br/spravato/bula. Acesso em 23 de junho de 2023.

  • Esketamina (intranasal): Informações sobre medicamentos. Disponível em: <https://www.uptodate.com/contents/esketamine-intranasal-drug-information?search=spravato&source=panel_search_result &selectedTitle=1~7&usage_type=panel&kp_tab=drug_general&display_rank=1. Acesso em 23 de junho de 2023.
  • McIntyre, RS, Rosenblat, JD, Nemeroff, CB, Sanacora, G., Murrough, JW, Berk, M., Brietzke, E., Dodd, S., Gorwood, P., Ho, R., Iosifescu, DV, Lopez Jaramillo, C., Kasper, S., Kratiuk, K., Lee, JG, Lee, Y., Lui, LMW, Mansur, RB, Papakostas, GI, Subramaniapillai, M., …
  • Stahl, S. (2021). Sintetizando as evidências para a cetamina e a escetamina na depressão resistente ao tratamento: uma opinião de especialistas internacionais sobre as evidências disponíveis e sua implementação. O jornal americano de psiquiatria, 178(5), 383-399.

  • Stahl, Stephen M. Stahl psicofarmacologia : bases neurocientíficas e aplicações práticas / Stephen M. Stahl; ilustração Nancy Muntner ; tradução Patricia Lydie Voeux ; revisão técnica Luiz Henrique Junqueira Dieckmann, Michel Haddad ; assistente editorial: Meghan M. Grady. – 5. ed. – Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2022. See More
  • .

      Deixe um comentário

      O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *