Orientações ao paciente pediátrico sobre adesão e acompanhamento da asma
A asma é uma doença respiratória crônica frequente que afeta 1-29% da população em diferentes países.¹ Ela é definida por sintomas que incluem sibilância (chiado), falta de ar, sensação de abertura no peito e/ou tosse associada a variação variável do fluxo aéreo expiratório.1
A crise de asma é desencadeada pela exposição a alérgenos ou irritantes, como poeira, ácaros, pólen e fumaça de cigarro, infecções virais, mudanças climáticas ou exercícios.¹ Seus sintomas podem se resolver espontaneamente e desaparecer por semanas ou meses, porém os episódios de exacerbações têm potencial de gravidade e risco de vida, interferindo na qualidade de vida do paciente.1
O conceito de asma controlada engloba minimização dos sintomas durante o dia e a ausência destes à noite, necessidade reduzida de medicamentos de resgate, ausência de limitação das atividades físicas e diminuição de riscos futuros, como crises, perda acelerada da função pulmonar e efeitos adversos do tratamento .2
Como identificar e tratar
Dentre as causas que influenciam o sucesso no controle e a resposta ao tratamento da asma estão a falta de adesão à terapia proposta, exposição domiciliar a alérgenos e agentes irritantes, e tabagismo. A verificação regular destes elementos e sua influência nos sintomas deve sempre ser realizada antes de se avaliar qualquer alteração do tratamento de manutenção.2
A baixa adesão decorrente de medos e mitos sobre os medicamentos e a dificuldade na utilização do dispositivo inalatório são motivos importantes de falha terapêutica.2 É necessário desmistificar as crenças de que “bombinha faz mal ao coração”³. O medo do medicamento pode postergar o início do tratamento e fazer com que o paciente administre doses menores do que a indicada pelo médico, com conseqüente piora e/ou não melhora dos sintomas.3
Os ácaros da poeira doméstica são as maiores fontes de alergias domiciliares. A umidade é um fator crítico para a proteção de ácaros e de fungos dentro e fora dos domicílios. Estratégias, como a manutenção da limpeza das residências, a promoção de uma boa ventilação, a lavagem regular de roupas de cama com detergente e em altas temperaturas (> 55°C), o uso de capas impermeáveis para colchões e travesseiros, a aspiração diária das superfícies, a remoção de tapetes e a substituição de carpetes por pisos frios ou laminados, demonstraram ser eficazes na redução da população de ácaros presentes na poeira doméstica.4 Como estratégia de controle ambiental, ainda se soma um aumento clinicamente relevante dos níveis de animais alérgenos, muitas vezes, exigindo a remoção do animal da moradia.4
Além disso, a fumaça do cigarro é uma das principais fontes de emissões intradomiciliares e leva à maior morbidade das doenças respiratórias. Tanto o tabagismo ativo quanto o passivo são deletérios, e é fundamental recomendar ao paciente asmático e seus familiares que cessem o tabagismo o mais precocemente possível, a fim de diminuir o tempo e a quantidade final da exposição, melhorar o controle da doença e, assim, proporcionar menor frequência de exacerbações e redução na necessidade de medicação.4
O tratamento farmacológico de manutenção da asma baseia-se no uso de corticoides inalatórios, associados ou não a broncodilatadores de longa duração e é dividido em etapas de I a V, nas quais as doses de corticoide inalatório podem ser aumentadas e/ou outros tratamentos podem ser aumentando conforme a evolução e melhora dos sintomas do paciente.2
Um dos corticóides inalatórios mais utilizados é a fluticasona, e especificamente o propionato de fluticasona apresenta alta camada para os receptores de glicocorticóides e boa retenção pulmonar.6 Além disso, a associação de propionato de fluticasona ao salmeterol (este último sendo caracterizado como um medicamento de longa duração que dilata os brônquios) demonstra maior eficácia, com menor dose de corticoide inalatório no controle dos sintomas da asma quando comparado à fluticasona isolada.7^
A escolha do melhor fármaco deve ser pautada nas características específicas do paciente, como fatores de risco, preferência por dispositivo, além da efetividade e segurança da conduta terapêutica.8
A parceria entre o médico e o paciente asmático (e pais/cuidadores, no caso da criança com asma) é de fundamental importância no controle da doença e tem como objetivo permitir que o paciente adquira conhecimento, confiança e habilidade para assumir o papel principal no manejo de sua doença.9 Essa abordagem, chamada de automanejo guiado da asma, reduz a morbidade tanto em adultos quanto em criança.9
Um plano de ação personalizado para cada portador da doença deve ser elaborado e deve incluir planejamento do tratamento de manutenção, monitoramento do controle, orientações de como alterar o esquema terapêutico, reconhecimento dos sinais e sintomas precoces de exacerbação, tratamento domiciliar das crises leves e prescrição claras de quando procurar seu médico ou um serviço de emergência.9
A melhora dos sintomas após o início do tratamento para a maioria dos medicamentos de controle pode ocorrer em dias, mas o efeito ótimo do remédio é esperado em três a quatro meses. Na asma grave e cronicamente não protegida ou ocupada de forma abrangente, esse tempo esperado de melhoria pode ser mais longo.1
A avaliação do controle, em geral, é feita com base nos sintomas das quatro semanas anteriores à consulta e pode ser definida em: controlado, parcialmente controlado e não controlado.2 Atualmente, dispomos do questionário da Iniciativa Global para o Tratamento de Asma (GINA), o Questionário de Controle da Asma (ACQ) e o Teste de Controle da Asma (ACT), os dois últimos já validados para o uso em português do Brasil. Os testes são compostos de quatro a sete perguntas que variam de pontuação e resultado conforme a avaliação a ser usada. O objetivo deles é avaliar o nível de controle da doença do paciente.1
A frequência das consultas médicas depende do nível de controle inicial do paciente, resposta ao tratamento e engajamento do asmático no auto manejo da doença. Idealmente, os asmáticos devem ser revistos entre um e três meses após o início do tratamento e, após, a cada três a 12 meses.¹ Diante de uma exacerbação, o paciente deve ser avaliado pelo médico dentro de uma semana.1
Para avaliação da redução do corticoide inalatório, os sintomas da asma devem ser controlados e a função pulmonar deve se manter estável por três ou mais meses. A escolha do momento de proteção é fundamental, devendo-se considerar a ausência de infecções virais, mudanças na rotina, como viagens, ou a presença de gestação em mulheres. O paciente deve ser informado e instruído sobre a tentativa de redução do medicamento e plano de ação em caso de piora. A diminuição do corticóide inalatório em 25 a 50% a cada três meses de intervalo tem se mostrado viável e segura para a maioria dos pacientes.1
Levando-se em consideração o objetivo do tratamento da asma em alcançar e manter seu controle, prevenir o risco de exacerbações, perda da função pulmonar e efeitos colaterais do medicamento, a abordagem personalizada do paciente com educação, plano de ação por escrito, treinamento da técnica inalatória e revisão regular é essencial no sucesso da manutenção e manejo da doença.2
^Estudo planejado, duplo-cego, de grupos paralelos para comparar a eficácia de dose crescente de propionato de fluticasona isolada ou propionato de fluticasona e salmeterol para alcançar o controle da asma. Os valores de P para asma bem controlada são P=0,005, 64% vs 56% estrato 1; estrato 2 59% vs 41%; P <0,001; e 40% vs 22%; P <0,001 estrato 3.
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- Contraindicação: Seretide é contraindicado para pacientes com hipersensibilidade a qualquer componente da fórmula. Seretide Diskus contém lactose.
- Interação Medicamentosa: pode ocorrer quando administrado com potentes inibidores do citocromo P450 (ritonavir e cetoconazol).
- Reações Adversas: cefaleia, candidíase oral, disfonia.
- Referências:
- 1. INICIATIVA GLOBAL PARA ASMA (GINA). Estratégia Global para Gestão e Prevenção da Asma, 2023. Disponível em: https://ginasthma.org/2023-gina-main-report/. Acesso em 13/03/2024.
- 2. PIZZICHINI, MM e outros. Recomendações para o manejo da asma da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia – 2020. J Bras Pneumol., v.46, n.1, e20190307, 2020.
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