Opinião Jogo Aberto – 24 de Maio de 2018
Sem reforma, nada feito.
Somos um povo esperto ou um bando de otários que pensa estar levando vantagem em tudo que faz quando, na realidade, está é prejudicando alguém e, invariavelmente, a si mesmo? Sem resolvermos esse dilema não vamos mudar o país, como dizemos ser necessário. Enquanto acharmos que, com jeitinho, conseguimos resolver tudo, burlando as normas, não vamos resolver nada. Enquanto considerarmos “babacas” os que cumprem as leis e as regras morais da sociedade, não vamos resolver nada. Enquanto rezarmos na cartilha do “Mateus, primeiro os meus”, estaremos lá atrás na fila dos povos mais civilizados e mais felizes. Precisamos mudar. Parar de achar “malandro, esperto” quem faz o gol com a mão, enganando o juiz. Quem frauda o talão de estacionamento. Quem fura a fila do ônibus. Quem finge cochilar dentro do coletivo para não ceder lugar aos mais velhos. Quem acha e, mesmo identificando o dono, não entrega. Quem, enfim, é brasileiro.
Tarefa fácil? Não. Essa nossa é histórica. Talvez venha lá do descobrimento, quando nossos colonizadores trocavam espelhos por pedras preciosas, enganando os índios. De lá para cá não paramos. E o pior: falseamos até nossa indignação contra quem acusamos de corruptos só por o fazerem, evidentemente, em maior escala. Cobramos mudanças, mas não mudamos nosso comportamento. Desculpem-me, parece pesado, mas continuamos corruptos. Não somos mais corruptos por falta de oportunidade.
Pelas redes sociais circulam alguns vídeos com chamamentos à realidade, com propostas de engajamento da população num trabalho de, primeiro, revisão do próprio comportamento para, a partir daí, promover as reformas que o país precisa. A crise permanece sendo de caráter, como advertia o slogan de campanha de um deputado mineiro. Antes de superação dessa crise pessoal, não esperem uma reformulação das práticas políticas no Brasil. É que a tendência de todos nós é a de nos aproximarmos de nossos iguais.
Se somos assim, espertalhões, com comichões de corruptos, vamos eleger ou reeleger quem pensa igual. Olhem os números das pesquisas que estão sendo divulgadas ultimamente. Eles confirmam isso. Como solução para nossos problemas de corrupção, má gestão, déficits financeiros, má qualidade da saúde e da educação e outras dores de cabeça e diarreias morais, as redes sociais andam recomendando a reforma política. Não explicam, porém, o que viria a ser isto. Se vamos fazê-la, o melhor é que comecem a detalhar o que se pretende com ela e por quem seria feita. Com os atuais políticos que elegemos? Não, não daria certo. Nem adianta propor a escolha de gente nova, sem ligações políticas, que ganhou a elegante denominação de “outsider” e anda posando por aí de “outsider”. Não daria certo, seria caititu fora da manada, comida de onça na certa.
A solução talvez seja um pouco mais de paciência e a disposição firme de mudar, cada um de nós deixando a mania de levar vantagem individual para, então, criar a chance de uma vantagem coletiva. Ou um Brasil melhor.
Por Marco Aurelio