Todo cuidado é pouco.
A eleição vai se aproximando, e, como é tradição, aumenta o tom dos discursos populistas. A vítima de sempre são as elites, algo assim abstrato, que ninguém define com clareza o que venha a ser, mas que serve perfeitamente para calçar o discurso dos que estão descalços de ideias e propostas.
Os demagogos de sempre procuram criar a ideia de que as elites são os mais ricos, aqueles que detestam assistir ao crescimento dos pobres, como se não fosse bom para os ricos a existência de um mercado consumidor. Mas, para quem não tem nada a dizer, atacar as elites pode ser um bom caminho.
É bom que se diga que não é toda elite que pode ser atacada. A sindicalista e a dos servidores de determinados setores do serviço público devem ser preservadas. Aliás, nem existem. Só os ricos investidores são elites dignas de ocupar espaço na falazada de palanque.
Para a sociologia, elite é a minoria que detém o prestígio e o domínio sobre o grupo social. São, portanto, para o bem e para o mal, diferentes grupos, com diferentes desejos e reivindicações.
Alguns, mais barulhentos na defesa de seus privilégios. São os incrustados em áreas públicas e sindicatos. Outros, mais silenciosos, dominam por meio dos balcões de negócios, usando marionetes políticas. Esses dois ditam as regras do funcionamento do Estado e, não raramente, provocam verdadeiros terremotos políticos e econômicos no país.
Há outro grupo, o responsável por mover o país.
Desorganizado e meio alienado, é o que paga a conta dos erros dos outros grupos ou se refestela nas sobras da festança das outras elites. As novas lideranças desse grupo, no entanto, está emitindo sinais de cansaço, de inconformismo com a situação. Quer maior participação. Quer mudanças, reformas e fim de privilégios. Pelo menos em discurso, defende igualdade, transparência e seriedade. Quer protagonismo no processo decisório do Estado, cansado de se submeter ao jogo de grupos que se impõem pelo discurso demagógico e populista.
Anunciam uma nova elite: a que pensa. Quais serão os resultados imediatos dessa ação, impossível de prever. O importante é que não haja esmorecimento. É preciso perseverar, ocupar espaços que hoje são indevidamente ocupados.
Que as novas lideranças não imaginem ser possível tomar o comando do país e reinar. A convivência entre as elites é do jogo político. Se esse grupo que hoje busca protagonismo se sentiu alijado foi por sua própria omissão e covardia. Mas é sempre tempo para reagir. Assumir seu papel na sociedade, não apenas em defesa dos interesses do próprio grupo, mas do país.
Diante do quadro atual, não é uma opção. É, na realidade, uma questão de sobrevivência. O Brasil não pode esperar, submeter-se ao mando de grupos retrógrados, de direita ou esquerda, seja lá o que isso significa hoje. A reação da elite que produz, que pensa, deve ser o fato novo nessa eleição. Mas, para isso, precisa encontrar-se. Ser um grupo de verdade.
Por Marco Aurélio