Opinião Jogo Aberto – 11 de Outubro de 2018

Nem o maior dos milagreiros sabe qual país teremos a partir de 2019.

A democracia ganhou ou perdeu com o resultado de domingo? Uma vitória, leitor, todos conquistamos: os dois candidatos, se não juraram, pelo menos prometeram respeitar e cumprir a Constituição de 1988, que acaba de completar 30 anos e tem o nome de “Constituição Cidadã”. A Bolsonaro cabe dizer ao país para onde deseja levá-lo. A Haddad, provar que não é capacho de ninguém. Sua visita semanal a um preso condenado a 12 anos de cadeia pela Justiça, a quem considera “o maior estadista da história do Brasil”, é uma iniciativa de fato intolerável.

Por hábito, e sem qualquer argumento convincente, temos achado razoável e até bonito jogar a culpa de nossos (seculares) insucessos – como povo, mas, sobretudo, como eleitores – não em nós, mas em nossa Constituição. Mas não foi ela, cuja sobrevida é um milagre, que garantiu as instituições democráticas funcionando até agora?

Nossa Constituição é obra humana. Tem defeitos, como qualquer outra, mas nada que justifique sua implosão. Quem a leu (e são poucos, até mesmo entre políticos, que o fizeram) sabe que ela só pode ser objeto de emendas, mas jamais de uma Constituinte golpista.

Implicitamente, portanto, pelo menos neste início, os dois se comprometeram com a defesa da democracia. Bolsonaro, rapidamente, desautorizou o “autogolpe” do general Mourão, seu vice; Haddad desistiu de uma Constituinte e se distanciou do guru José Dirceu. No primeiro parágrafo, disse que “todos conquistamos” uma vitória. O motivo: pesquisa recente do Ibope diz que 70% dos brasileiros defendem a democracia. A esperança num país justo e democrático está renovada.

Deveria estar, então, senão alegre, pelo menos tranquilo com as eleições do último domingo. Afinal, uma vez mais, assistimos a um espetáculo democrático de rara beleza e que teve, no recado dado pelos eleitores, pela primeira vez, um condão reformista.

Na verdade, porém, estamos não só bastante tristes, mas profundamente angustiados pelo que poderá vir de ruim por aí, numa disputa, além de sanguinária, de mentiras. Não sabemos se teremos fígado para acompanhar as tratativas do segundo turno. Às vezes, poderemos sentir raiva quando pensamos no Brasil, como aconteceu com 76% dos brasileiros entre 16 e 34 anos. Estes, aliás, estão “enfurecidos” com o que nossos dirigentes aprontaram nesses últimos 30 anos, cujo início era só de esperança.

Sempre procuramos fugir dos extremos. Na eleição do último domingo, não foi diferente. Talvez por isso, mais que nunca, curtimos, hoje,uma doída angústia. Será que ainda veremos nosso país no caminho certo? É só nisso que pensamos: recolocá-lo (se é que já esteve nela algum dia…) na direção de um desenvolvimento humano sincero, no qual a lei passe a ser respeitada por todos nós, qualquer que seja o partido ou a ideologia. Bem longe dos extremos, tanto de direita quanto de esquerda. Um país que, enfim, e acima de tudo, leitor, preze a liberdade e a democracia.

Se ainda nos fossem possível, diria aos dois candidatos: pensem no Brasil. Pelo menos uma só vez. Deixem de lado o ódio, as mentiras e as bravatas. Convençam-se de que não existe mais espaço para aventuras político-ideológicas entre nós.

O eleito deve cultivar o senso comum e, acima de tudo, velar pela legião de irmãos que sofrem. Estamos fartos da tergiversação e da mentira. Sejamos um só país, um só povo, uma só nação!

Valha-nos Deus!

 

Por Marco Aurélio

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