Opinião Jogo Aberto – 06 de Abril de 2018
O governo Temer acabou.
É questão de tempo até que a Procuradoria Geral da República (PGR) apresente a terceira denúncia contra o presidente Michel Temer (MDB). Quando isso acontecer, a única tarefa do emedebista antes de deixar o Palácio do Planalto será lutar pela sobrevivência de seu mandato. Até que isso aconteça, muito provavelmente o presidente, a despeito de todos os cargos e verbas que tem para oferecer, verá seus aliados se afastarem aos poucos, ao menos diante dos holofotes. Temer será quase um presidente-fantasma, e os olhos do Brasil estarão voltados apenas para o futuro que começará a se desenhar com a disputa eleitoral que se avizinha.
Temer já disse por diversas vezes que gostaria de entrar para a história como presidente da República. Entrou como o primeiro presidente investigado, denunciado e com os sigilos bancário e fiscal quebrados. Agora, entra também para a história como o presidente com mais aliados próximos detidos em operações policiais de combate à corrupção. A lista é extensa: o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, o ex-assessor e ex-deputado Rodrigo Rocha Loures, os ex-ministros Geddel Vieira Lima, Henrique Eduardo Alves e Wagner Rossi e os amigos José Yunes e coronel João Baptista Lima.
Nenhum brasileiro, mesmo os que fazem parte do contingente de 1% que admite hoje votar em Temer pela reeleição, podem imaginar que diante de tantos suspeitos o presidente é um mero inocente. Em um ano eleitoral, qualquer político que ousar contradizer essa lógica quase estatística tenderá a perder votos e colocar sua carreira em risco.
Assim, é difícil imaginar que a ânsia para defender Michel Temer nos tempos atuais seja a mesma da que se verificou nas duas primeiras denúncias, quando o alto valor das emendas e os cargos à vontade no governo federal fizeram muita gente tapar o nariz e dizer “não” ao prosseguimento das denúncias contra Temer. Agora está em jogo não os cargos de segundo escalão a serem distribuídos a aliados, mas os próprios mandatos dos parlamentares, que já perceberam o quanto o presidente é tóxico para suas pretensões.
Quem mais tem a perder com uma eventual defesa do emedebista é o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM). E é também quem mais tem a ganhar caso resolva mudar de postura agora e liberar sua tropa para bombardear e tirar o cargo de Temer. Maia é um pré-candidato à Presidência da República desacreditado por seu fraco desempenho em pesquisas. Sua proximidade com o governo e sua falta de carisma o deixaram bem longe da lista de favoritos a ocupar o Palácio do Planalto a partir de janeiro do ano que vem. Mas Maia pode virar o jogo se dificultar a vida do emedebista, seja pautando com celeridade uma eventual nova denúncia contra o presidente e articulando com seus antigos aliados, seja aceitando um dos pedido de impeachment que estão em sua mesa ou que provavelmente começarão a chegar a partir da próxima semana.
Não é apenas em visibilidade e popularidade que Maia ganharia com um definitivo rompimento com Temer. Assumindo provisoriamente o governo, conduzindo uma eleição indireta na qual provavelmente seria ungido novamente, seria muito mais fácil levar adiante seu sonho de se tornar presidente da República a partir das eleições diretas de outubro.
Por Marco Aurelio