Heroísmo do time alviverde em vitória aos 54 do segundo tempo não deve esconder suas falhas. Equipe mostra alma de Libertadores, uma carência no ano passado
Palmeiras venceu com o DNA da Libertadores – com as impressões digitais de uma competição pródiga em revolucionar o sistema nervoso de uma equipe. O 3 a 2 sobre o Peñarol, conquistado aos 54 do segundo tempo, foi um teste extremo para um elenco que foi modificado, após ser campeão brasileiro, justamente para se adaptar às particularidades da caminhada continental. O Palmeiras falhou e acertou, errou e aprendeu – e certamente saiu de campo mais talhado a conquistar a Libertadores do que quando entrou.
A vitória foi uma epopeia – e o torcedor tem a obrigação de celebrá-la. Mas não é a sucessão de epopeias que torna um time campeão: é maturidade, regularidade, equilíbrio. E faltou isso ao Palmeiras em parte do jogo. Se teve grandes acertos (e teve), se teve heroísmo (e teve), o Verdão também teve falhas. Uma bola ter entrado no último segundo, com um jogador a menos, não deve apagar isso.
Eduardo Baptista mandou sua equipe a campo no 4-1-4-1. A linha de meio-campistas teve Dudu aberto na esquerda, com Willian agudo pela direita – e Tchê Tchê e Guerra mais centralizados. No primeiro tempo, o quarteto foi bem bloqueado pelo Peñarol, que teve marcação organizada e agressiva. Em busca de soluções, foi Tchê Tchê quem mais se movimentou. Mas a equipe procurou especialmente Dudu. Ele tentou, repetidas vezes, jogadas individuais, arrancadas contra dois ou três marcadores. E tentou porque a equipe, coletivamente, estava amarrada, com seu lado direito praticamente inoperante.
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Desenho do Palmeiras no começo do jogo contra o Peñarol nesta quarta-feira (Foto: GloboEsporte.com)
O cenário piorou quando o Peñarol saiu na frente. Após cobrança de escanteio, a defesa falhou ao permitir que Ramón Arias mandasse um tiro de cabeça, sem chances para Fernando Prass. Fabiano não acompanhou o zagueiro uruguaio, que superou Mina pelo alto.
Depois do gol, o Palmeiras se desorganizou um pouco – entortando, em alguns momentos, a formação de meio. E começou a ameaçar em chutes de média e longa distâncias, sem conseguir encaixotar o Peñarol.
Mas tudo mudou no segundo tempo. O Palmeiras voltou do intervalo ensandecido – em módulo Libertadores. Em cinco minutos, virou o jogo. Mas a intensidade da equipe não foi a única responsável pela reviravolta. Por trás dela, esteve um time que retornou mais equilibrado. Tanto que os dois gols saíram pelo lado direito, aquele pouco utilizado no primeiro tempo – ambos com participação de Fabiano. No primeiro, Edu Dracena e Borja brigaram pela bola, que chegou para Willian completar; no segundo, Borja foi novamente importante ao sair da área para desviar para Guerra – que acionou Dudu livre.
Na sequência, Borja desperdiçou cobrança de pênalti. Tchê Tchê, depois, teria gol evitado em cima da linha. E aí o Palmeiras voltaria a errar pelo alto – permitindo que Gastón Rodriguez completasse um rebote para o gol.
O empate insatisfatório se tornava um grande teste para a paciência, a inteligência e o espírito de luta do time palmeirense. Em geral, a equipe reagiu bem às provocações do adversário ao longo do jogo – especialmente Felipe Melo, muito visado. Mas Dudu perdeu a cabeça ao levar amarelo, reclamou com o árbitro e acabou expulso. Houve confusão, e foi isso que levou o jogo até os 54 minutos, quando Fabiano, de cabeça, fez o gol da vitória.
O Palmeiras é melhor que o Peñarol – e, por isso, deveria ter padecido menos para vencer. Mas isso é Libertadores, e do outro lado havia um dos maiores clubes do continente, um pentacampeão da América. Sofrer é normal, é do jogo.
O que o Palmeiras não pode, depois da epopeia desta quarta-feira, é cair na lenda de que ter alma de Libertadores é o principal para conquistá-la. Não é. O mais importante é ter bola. Quando a bola não resolve, porém, a alma pode ser um diferencial. Era algo que o Palmeiras da Libertadores passada não tinha. E que o Palmeiras da Libertadores deste ano parece ter.
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