Abel Ferreira supera Felipão, tem novo recorde e coleciona feitos pelo Palmeiras
O sorriso não deixa enganar. Agachado e com o olhar vidrado em Luis Guilherme, Abel Ferreira esperou a rede estufar para comemorar a virada do Palmeiras sobre o Independiente del Valle, por 3 a 2, no Equador. Quase um desabafo. Pela vitória improvável, pela conquista de sua joia e por mais um recorde pessoal.
– Eu não sou muito de festejar, mas este é impossível – confessou o treinador, sobre o gol que deu a virada ao Verdão.
Entre as maiores referências técnicas no Palmeiras, aliás, Abel Ferreira e Felipão carregam uma relação antiga no futebol. Foi Felipão quem convocou Abel, quando ainda lateral-direito, para sua única experiência como atleta na seleção portuguesa.
– Em Portugal ele não ganhou nada, mas ganhou uma coisa de todos os portugueses, uma admiração e um respeito, um carinho absurdo, pode ter certeza – disse Abel Ferreira certa vez à TV Globo.
Fora das quatro linhas, os técnicos vivenciam uma passagem de bastão entre ídolos no Verdão. Scolari venceu a primeira Libertadores do Palmeiras, em 1999, enquanto Abel conquistou o bi e o tri, em 2020 e 2021.
O português costuma rechaçar a valorização a seus feitos individuais, mas é inegável a mudança de patamar do Palmeiras em relação à disputa por taças nos últimos anos. Dos 18 títulos conquistados pelo clube neste Século XXI, 10 foram sob o comando de Abel.
E desde outubro de 2020, quando contratado, o treinador coleciona momentos marcantes em disputas de Libertadores pelo Verdão.
Em dezembro, pouco após sua chegada, comandou a primeira partida como mandante no torneio justamente nas oitavas de final. Contra o Delfín, do Equador, fez o Verdão vertical e eficiente para atropelar por 5 a 0, fechando o placar acumulado em 8 a 1 e avançando às quartas de final.
Semanas depois, envolto em uma bandeira de Portugal, emocionou-se com a conquista da Libertadores 2020 – finalizada em 2021 por conta da pandemia – e terminou marcado com um discurso sobre sua família.
– Ninguém ganha sozinho. Hoje sou melhor treinador, mas sou pior pai, filho, irmão, tio… Não imaginam a quantidade de vezes que me deitei à noite, na minha almofada, e chorei sozinho de saudade. Chorei muito no final do jogo. Sou uma pessoa de família, adoro minhas filhas e minha esposa. Atravessei o Atlântico a acreditar numa coisa antes dela acontecer – desabafou.
Ao fim daquele mesmo ano, o Palmeiras conquistava o tricampeonato – bi consecutivo, por sua vez – ao vencer o Flamengo por 2 a 1 na prorrogação, em Montevidéu, no Uruguai, mantendo o domínio continental.