Visão de Fato – 23 de Janeiro de 2025
Lula e o preço político da picanha cara
Por Guilherme Macalossi
“É a economia, estúpido”, disse James Carville, nos idos de 1992 quando aconteceu a vitória de Bill Clinton sobre George Bush, na eleição presidencial norte-americana. É uma máxima sempre atual, mesmo na era das redes sociais. É inequívoco, por exemplo, que a incapacidade de Joe Biden em resolver a equação inflacionária nos Estados Unidos tenha ajudado Donald Trump a voltar para Casa Branca. O eleitor médio, que não necessariamente pensa em ideologia, vota com o bolso, ainda mais se sentir que seu poder de compra é corroído pela alta dos preços dos itens de consumo básico. Isso vale para os americanos, assim como vale para os brasileiros.
Uma pesquisa do Instituto Paraná Pesquisas, publicada no último dia 18, aponta que 65,7% dos entrevistados afirmaram que os preços dos produtos aumentaram nos supermercados. A percepção de inflação é crescente, e puxada pelos alimentos, que subiram 7,69%. São os produtos básicos consumidos pela classe trabalhadora. Leite, óleo de soja, café e carne, para citar alguns. Qualquer sacola com meia dúzia de produtos não sai por menos de 100 reais.
Durante muito tempo o governo preferiu viver em estado de negação, como se isso não fosse um problema real. Ao invés de tomar medidas fiscais para controlar a elevação de preços, ficou a bater bumbo contra Roberto Campos Neto, como se este elevasse a taxa juros por birra contra Lula. Em 2024, a inflação estourou a meta estabelecida pelo Banco Central, ficando em 4,83%. Mas a realidade bateu à porta, na forma da deterioração da aprovação do presidente, que hoje vive seu pior momento político desde o início do terceiro mandato.
Na última reunião ministerial, Lula finalmente admitiu o óbvio, e cobrou seus auxiliares: “Os alimentos estão caros na mesa do trabalhador. Todo ministro sabe que o alimento tá caro e uma tarefa nossa é garantir que chegue na mesa do povo trabalhador, da dona de casa, na mesa do povo brasileiro, em condições compatíveis com o salário que ele ganha”, disse.
Ainda não se sabe quais serão as medidas que Lula tomará para conter a alta dos preços. O óbvio seria buscar controlar as contas públicas, como vem apontando o Banco Central. Lula sabe muito bem que a viabilidade de sua candidatura em 2026, ou de alguém que represente seu campo político, depende não apenas de indicadores econômicos frios, mas da sensação de bonança. Hoje ela inexiste, mesmo com crescimento do Produto Interno Bruto acima da expectativa. O preço da picanha, que era discurso de Lula na sua vitória em 2022, pode também virar o símbolo de uma eventual derrota sua em 2026.