Volei feminino: Queda marca adeus de uma geração e põe Natália à frente na renovação
Fabiana e Sheilla se despedem da seleção e podem ser seguidas por Jaque. Ponteira deverá ser pilar de nova equipe ao lado de Gabi, com Thaísa como ponto de referência.
No momento da queda, é preciso calma. As cornetas vão soar, os dedos vão ser apontados, os elogios vão se calar. Mas, em meio ao caos, é preciso lembrar do adeus da geração mais vitoriosa do vôlei nacional. A despedida foi precoce, em um palco montado para uma festa que deveria acontecer dois jogos depois. Ao cair para a China, mas quartas de final dos Jogos do Rio, a seleção de José Roberto Guimarães precisou encarar o fim de um sonho que durou quatro anos. Após uma fase de classificação perfeita, a equipe parecia pronta para conquistar o tricampeonato olímpico dentro de casa. Não deu.
É difícil apontar as falhas na queda. Na fase de classificação, a seleção empolgou com boas atuações rumo à classificação. Contra a China, depois de um bom início, quando não deixou as rivais jogarem, a equipe se perdeu. Cometeu erros bobos e viu crescer uma gigante do outro lado. Pancada atrás de pancada, e Ting Zhu acabou com o passe brasileiro. O bloqueio parou de funcionar, e a confiança da seleção foi minando. Zé Roberto mexeu como pôde. Em quadra, a seleção lutou como pôde. Não evitou, porém, o adeus precoce.
Com a derrota para a China nas quartas de final dos Jogos do Rio, o Brasil vê duas de suas jogadoras mais vitoriosas darem adeus. Fabiana, capitã da seleção, e Sheilla, talvez a maior estrela da equipe, confirmaram o fim de suas jornadas junto ao time. Jaqueline, outra veterana, deixou seu futuro em aberto. Thaísa, a mais jovem das quatro bicampeãs olímpicas do grupo, saiu do Maracanãzinho sem falar com a imprensa. Aos 29 anos, deve, porém, ser uma das referências do time rumo aos Jogos de Tóquio.
As apostas para o futuro, no entanto, estão nos braços de Natália. Antes da queda, a ponteira, de 27 anos, se apresentava como maior referência ofensiva do time. No processo de renovação da equipe rumo a Tóquio, a jogadora deve ter papel fundamental. Ainda que esteja em sua melhor forma na carreira, a opinião de que ela ainda está longe de seu ápice é praticamente unânime entre a comissão técnica.
– Nós nos dedicamos, jogamos o tempo inteiro com vontade, mas não deu certo. Então, é bola para frente. Se não aconteceu era porque não era para acontecer. As mais velhas devem se despedir da seleção, infelizmente. É um grupo vitorioso. Estou triste por elas se despedirem nessa posição. Mas a gente vai ter que comandar daqui para frente. Eu, Dani Lins, Gabi. Então, vamos estar juntas porque sabemos que há muito pela frente. Saímos de cabeça erguida – disse Natália.
Vista como atleta mais promissora da nova geração, Gabi é outra que deve ser trabalhada para evoluir até os Jogos de Tóquio. Aos 19 anos, também deve puxar uma série de outras revelações do vôlei nacional, como Rosamaria, Ana Paula Borgo e Naiane, que chegou a fazer parte do grupo principal para ganhar experiência.
O futuro de José Roberto é uma incógnita. Desde 2003 à frente da seleção feminina, conquistou dois ouros olímpicos – tem mais um, que ganhou quando comandava os homens, em 1992. O técnico é praticamente uma unanimidade. Dirigentes da Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) sempre se manifestaram a favor da permanência do treinador mesmo se o tri não viesse. A entidade não vê nenhum outro nome capaz de tocar a renovação da equipe no novo ciclo. Após o ouro nos Jogos de Londres, há quatro anos, ele já havia se mostrado tentado a não seguir em frente. O desafio de guiar o time em uma Olimpíada em casa, porém, seduziu. Agora, é possível que se sinta motivado a iniciar o processo de montagem da nova equipe, mas o longo período no cargo pode ser determinante.
Em derrotas anteriores, como nos Jogos de Atenas, a seleção ganhou um rótulo de fracasso, mas a queda no Rio não deverá ser encarada assim. Ainda em quadra, as jogadoras agradeceram os aplausos da torcida, um reconhecimento da luta contra as chinesas. Abaladas, a maior parte não segurou as lágrimas. Na área de entrevistas do Maracanãzinho, algumas pediram para não falar, como Gabi, Thaísa e Fabíola. Dani Lins, outra que sai fortalecida por conta de sua evolução, pediu desculpas e chorou.
– Não tem outro sentimento, só tristeza. Demos o nosso máximo para chegar à final. Infelizmente, não deu. Erro nosso, em alguns momentos decisivos. Só podemos agradecer à torcida toda. E pedir desculpas. Nós, atletas, comissão, brasileiros, merecíamos a final por uma. Hoje, não (começa outro ciclo). Não consigo pensar em nada. Preciso deitar na minha cama e dormir. Não tenho um amanhã ainda. Vamos ver.
Confira a situação de cada jogadora:
Levantadoras:
Dani Lins: durante o ciclo olímpico, se destacou. Deve ser um dos pilares da nova seleção.Fabíola: aos 33 anos, ainda não definiu seu futuro, mas não deve encarar o novo ciclo olímpico
Centrais:
Fabiana: capitã da seleção, se despede com dois ouros olímpicos e como referência da geração.
Thaísa: bicampeã olímpica, deve ser um ponto de referência da nova seleção.
Juciely: aos 35 anos, não anunciou o destino, mas deve ter feito sua despedida da seleção.
Adenízia: aos 29 anos, é outra que deve ser chamada para o início do novo ciclo olímpico.
Ponteiras:
Natália: deve assumir o posto de maior referência da seleção rumo a Tóquio
Fê Garay: campeã em Londres, tem 30 anos e talento para seguir no time
Jaqueline: ainda não definiu seu futuro, mas, aos 32 anos, pode ter feito sua despedida.
Gabi: é apontada como maior promessa da nova geração. Deve ganhar ainda mais destaque no novo ciclo.
Oposta:
Sheilla: bicampeã olímpica, se despede da seleção como uma das maiores estrelas do vôlei nacional.
Líbero:
Léia: cresceu na reta final rumo ao Rio, mas, aos 31 anos, ainda não é nome certo no futuro da seleção.