Visão defato – 07 de março de 2024
Faroeste à brasileira
Por Rodrigo Constantino
Mais uma entrevista. São muitas entrevistas. Nossos ministros supremos não resistem a um holofote midiático, e como já transformaram o STF numa corte política faz tempo, o que são mais algumas opiniões pessoais e subjetivas por parte desses poderosos “juízes”, não é mesmo?
Gilmar Mendes falou ao Valor Econômico sobre os dez anos da Lava Jato. Mendes é o ministro supremo com mais ódio da operação mais bem-sucedida de combate à corrupção em nosso país. Ele nunca escondeu seu desprezo pelos responsáveis por colocar na cadeia políticos graúdos.
“Esperamos que a gente deixe de acreditar em salvadores”, disse o ministro em passagem que o jornal escolheu para sua chamada. Para Gilmar Mendes, a Lava Jato “se achava um poder”, e os responsáveis pela operação “passaram a pautar as ações”. Segundo Gilmar Mendes, a “Lava Jato era o Papa”.
No trecho mais revelador, o ministro diz que a cassação de Deltan Dallagnol e o possível mesmo destino de Sergio Moro são “punições leves para os crimes cometidos”. O que mais chama a atenção na postura dos nossos ministros supremos é que perderam completamente o pudor de fazer afirmações que comprovam a politização da corte e suas ações ilegais.
João Luiz Mauad fez o melhor resumo da entrevista “simplesmente estarrecedora”. Ele destacou quatro pontos importantes:
1- Chama a atenção, em primeiro lugar, o ciúme do protagonismo da Lava Jato. O ministro chega a dizer que a LJ era um poder à parte, com capacidade de pautar todos os demais poderes;
2- Também é nítido o fato de o STF estar “copiando”, hoje, em seus inquéritos eternos, todos os procedimentos que o ministro aponta como viciados durante a Operação LJ;
3- Ademais, em determinado momento, Gilmar deixa escapar que o desmonte da LJ pelo STF começou no momento em que os olhos dos investigadores apontaram para o PSDB. Enquanto a coisa estava restrita ao PT, ao MDB e ao PP, “estava tudo bem”;
4- Finalmente, Gilmar, num arroubo de sinceridade, diz que a cassação de Deltan e Moro é um castigo leve para os “crimes” que cometeram. Como assim, ministro? Eles estão sendo punidos pelo TSE por crimes outros, que não eleitorais?
Fica claro que o Brasil virou várzea de vez, que não há mais qualquer preocupação com a legalidade das ações supremas, que a instrumentalização do Estado para perseguir desafetos e adversários que ousaram desafiar o sistema corrupto chegou ao ápice totalitário. Como diz Augusto Nunes, é o nosso faroeste à brasileira, em que bandidos perseguem mocinhos…