Visão defato – 07 de fevereiro de 2024
Missão da imprensa: normalizar o absurdo
Por Rodrigo Constantino
“Essa, não é uma decisão isolada do ministro Dias Toffoli, nesse sentido de movimentação, de um gesto de reaproximação, tentativa de se reaproximar do PT, do governo Lula, porque o Toffoli, ele mudou ao longo dos últimos anos, desde a Lava Jato, ele tinha algumas decisões no sentido contrário ao PT, e ele veio modificando, modulando o posicionamento dele como a gente acabou de mostrar com essa de hoje, que realmente ela é inclusive para atender a um pleito do PT, o Rui Falcão, deputado federal, a turma do Prerrogativas”.
Essa foi a fala da jornalista Andréia Sadi na Globo News, “justificando” mais uma decisão monocrática de Toffoli que beneficiou a turma do PT, partido para o qual advogou antes de virar ministro supremo. O que mais espanta nesse comentário é a naturalidade com a qual a imprensa trata o suposto esforço de um ministro do STF de se reaproximar de um partido político, de agradar figurões petistas. Não deveria o STF ser imparcial, com a missão de atuar como guardião da Constituição? Onde fica a independência entre os Poderes?
Qualquer estudante do primeiro ano de Direito compreende o absurdo disso tudo, mas a mídia mainstream insiste em banalizar a bagunça que a turma da esquerda fez com o país. E faltam juristas corajosos para vir a público apontar as bizarrices, pois todos temem retaliações agora. Dessa maneira, o atropelo de outros poderes, a partidarização do Judiciário e a militância disfarçada de juiz acabam de vez com nossas instituições republicanas, tudo para “salvar a democracia”. E os jornalistas são cúmplices!
Nem todos, claro. E vale notar que Toffoli foi tão longe e escancarado dessa vez, que até jornais simpáticos aos abusos supremos se manifestaram contra. No Estadão, Raquel Landim publicou texto com a seguinte manchete: “Legado de Toffoli é minar a confiança no Brasil”. No subtítulo ela diz: “Minar a credibilidade de um país afeta severamente não só a economia, mas a própria democracia”. Na Folha de SP, Dora Kramer escreveu: “O silêncio dos coniventes: Executivo e Judiciário olham inertes a anulação de ilícitos expostos em excesso de provas”. O Globo colocou em seu editorial: “Decisão de Toffoli sobre Odebrecht deveria ser revista: Brasil não pode jogar por terra confissões em vídeo e milhares de páginas com provas de corrupção”.
O problema é que a velha imprensa foi, até aqui, parte do problema, ajudou a criar o monstro, e agora reclama pontualmente de alguns abusos. Não foi o William Bonner da Globo quem disse “Lula, o senhor não deve mais nada à Justiça”? Não foi o Estadão que em vários editoriais justificou ou mesmo aplaudiu medidas arbitrárias do STF que perseguiram bolsonaristas? Não foi essa mídia toda que se calou diante da censura a jornalistas de direita?
Com raras e honrosas exceções, como esta Gazeta do Povo, a imprensa profissional agiu como cúmplice do consórcio no poder, que recolocou o ladrão na cena do crime, como diria Alckmin. E agora ficam todos espantados com o ex-advogado petista à vontade para tomar decisões bizarras que favorecem os antigos comparsas da corrupção petista? A velha imprensa teve como missão até aqui normalizar o absurdo. Fica estranho depois de tudo isso a imprensa constatar: “Que absurdo!”