Visão de Fato – 15 de Junho de 2020
Parada dura.
Ninguém estava preparado para enfrentar esta pandemia. O surto inicial na China parecia distante, como foi a gripe aviária, que no Brasil passou longe de consequências catastróficas.
Constata-se também que, mundialmente, a condição de nação de regime democrático não facilitou os resultados. Melhor se saíram regimes centralizados e autoritários. A China foi o melhor: menos casos de contágio, menos óbitos, retorno à normalidade em prazo-relâmpago, venceu o confronto com Europa e Estados Unidos. Colherá os frutos de sua eficiência em larga escala, beneficiando sua população com maior emprego, renda e eliminação de pobreza para os próximos quatro anos, com reflexos que se sentirão na próxima década inteira.
O contrário também é verdadeiro, como aqui, no Brasil, e muito pouco comentado. Quantos morrerão, sofrerão, perderão emprego, aumentarão seus sofrimentos? Isso é secundário.
Para o, consultor do JP Morgan, nas principais economias, “previsões científicas imprecisas, politização das pesquisas e uma abordagem sensacionalista pesarão sobre o acentuar-se de impactos (econômicos) significativos”.
Ele observa que frequentemente medidas foram direcionadas como “resposta política indiscriminada quando aplicada como lockdown em regiões geográficas, proteção de determinados segmentos da população, sem avaliação dos riscos de paralisação de uma atividade econômica específica”.
Apenas a contaminação pelo coronavírus, já se sabe, não gera em si um risco expressivo de morte na população saudável; as consequências deletérias se limitam às pessoas com determinadas doenças crônicas e, ainda, tabagismo, alcoolismo, obesidade e idade avançada. Para esses indivíduos, a Covid-19 é um grave complicador de situações precárias preexistentes.
Na Europa, registraram-se óbitos com média de 75 anos; no Brasil é de 68. Não entram nos dados oficiais informações de doenças crônicas dos falecidos. Atribui-se ao coronavírus a causa da morte sempre que ele seja encontrado.
A grande maioria da população passa pelo contágio sem saber. Já dispõe de proteção natural suficiente para sequer passar da temperatura de 37°C ou tossir uma vez.
A imprensa tem informado com alarde a morte de pessoas mais jovens, sem dizer que não tiveram autópsia.
Setores politicamente mobilizados têm apoiado medidas desproporcionais, sem medir os impactos propriamente sociais provocados por lockdown. “Fique em casa” é uma condição que precisa ser avaliada, não é panaceia. É recomendação que em excesso, como qualquer medicamento, se transforma em veneno e mata.
Pior que não tem bula, posologia e cuidados.
Desconhecem-se os efeitos colaterais e de longo prazo. Como um carrapaticida que em dose elevada pode matar a vaca e acabar com o leite da família.
A China já é o país que da pandemia tirou uma oportunidade ímpar, com reflexos sociais imediatos e ainda mais importantes no longo prazo. Não precisará de provocar na sua população desemprego, fome e miserabilidade que vários países enfrentarão já neste ano.
O Brasil será provavelmente um dos maiores perdedores, segundo analistas de várias derivações e continentes. Vai se encerrar, assim, em dezembro de 2020, uma década marcada por retrocessos, aumento da pobreza e do desemprego.
É preciso ter atenção. “Embora muitas vezes ouçamos que os lockdowns são motivados por modelos científicos e que existe uma relação exata entre o nível de atividade econômica e a disseminação do vírus, isso não é suportado pelos dados”, escreve Kolanovic.
Resta claro que, na falta de harmonia política e convergência de propósitos, e, ainda, no excesso de oportunismo de setores blindados de consequências, o lockdown se ergueu como medida “consagrada” e cobrada pela maioria da população, ignara da conta que pagará.
No horizonte surgem momentos desafiadores.
Por Marco Aurélio