Visão de Fato – 15 de Abril de 2024
O Brasil virado do avesso
Por Luís Ernesto Lacombe
O Brasil está do avesso. Quem defende menos Estado, quem se opõe ao controle social, à censura, quem se entrega à defesa da liberdade agora é chamado de fascista. Os adoradores do Estado, aqueles que cometem ilegalidades, abusos e arbitrariedades e aqueles que apoiam tudo isso agora são os grandes defensores da democracia.
Críticas foram transformadas em ataques. A intenção de debater virou crime. Passou a ser proibido questionar, fazer perguntas, apontar contradições, descumprimento das leis, cobrar explicações, transparência, duvidar, desconfiar, ser curioso. Os poderosos não querem ser “incomodados”. Quem ousa fazer isso é perseguido, censurado, intimidado, investigado. Não importa se tem foro privilegiado ou não. Há inquéritos surreais no Supremo desde a origem, inquéritos eternos, amplos, sigilosos, feitos sob encomenda para isso.
Já não valem as leis. Os poderosos são as leis. Vendem-se como “justiceiros”, salvadores e protetores da democracia no Brasil. Dizem que defendem o Estado de Direito, atacando o Estado de Direito. Por enquanto, têm inimigos bem definidos, e contra eles vale tudo. Os que aplaudem a perseguição e consideram que dela se beneficiam devem ficar espertos… Liberdade não se fatia, ou todos têm ou ninguém tem.
Romperam-se todos os limites, numa busca insana por “culpados pelos atentados à democracia brasileira”. Tudo do avesso. Os vilões maldisfarçados de heróis. As liberdades ruíram sob os punhos de uma gente “horrível, uma mistura do mal com atraso e pitadas de psicopatia…” Uma gente que coleciona crimes próprios, na mesma proporção em que os inventa para seus inimigos. “Fake news”, “desinformação”, “milícia digital”, “discurso de ódio”, “desordem informacional”…
Grande parte da imprensa aplaudiu o descalabro. Seus inimigos são os mesmos inimigos escolhidos pelos poderosos. Esse jornalismo que deixou de ser jornalismo não tinha visto problema no que agora trata como “descumprimento dos mais estreitos limites dos direitos e das liberdades individuais previstos na Constituição”. E por quê? Porque havia um “mal extremamente ameaçador a combater”.
Agora que considera que o inimigo maior do Brasil — a “extrema direita”, o “fascismo” — foi derrotado, a imprensa tradicional admite que as leis foram rasgadas, que as ilegalidades, os abusos e arbítrios campearam nos últimos cinco anos… Mas era tudo por uma “boa causa”. Então, cabe o perdão, mas é preciso que o STF e o TSE agora tomem jeito, passem a agir “sem avançar o sinal, com mais ortodoxia e autocontenção”.
Artigos e editoriais dos principais jornais do país nas últimas semanas expõem a cumplicidade da imprensa com práticas ilegais do Judiciário
“O STF cometeu erros evidentes”… E ninguém pode esquecer: com o apoio das redações maquiavélicas, com sua permissão à prática de toda sorte de absurdos. Foram cúmplices, mas a proposta indecorosa é que se esqueça tudo isso. Parece que é tempo de voltar ao império das leis, com a carinha limpa, de banho tomado.
A partir de agora, a imprensa indica, tudo mudou. O que foi feito de errado pelo Judiciário e pela imprensa está definitivamente perdoado e deve ser entendido como a única “tábua de salvação” então possível para o Brasil.
Acredita na imprensa tradicional quem ainda se ilude… Acredita no STF quem aceita o avesso. É assim no país do avesso. Alexandre de Moraes insiste que “liberdade de expressão não é liberdade de agressão”. É assim no país do avesso. E Luís Roberto Barroso, diz, para bom entendedor, com pose de “herói da imprensa”, que não há nada de errado em ser o avesso… E assunto encerrado.