Visão de Fato – 09 de Junho de 2020
Revolta contra o racismo.
O ano de 2020 não vai terminar, assim como 1968 não acabou. São anos que, por razões diferentes, colocaram o povo nas ruas lutando contra a opressão e opressores. Em 1968, houve uma luta mais difusa, contra todas as formas de poder, de direita ou de esquerda, e a violência gerada por esses governos contra os seus próprios cidadãos, como a morte do estudante Edson Luís, no Rio de Janeiro, pelas forças de repressão da ditadura brasileira, ou os massacres promovidos pelos Estados Unidos no Vietnã, e pela União Soviética, esmagando a Primavera Democrática na Tchecoslováquia.
Já 2020, o ano que não vai acabar também, vive o horror da violência novamente. A água do copo derrama por causa da última gota. A morte do segurança preto – ou negro, como queiram – George Floyd, no Estado de Minnesota, nos Estados Unidos, foi a gota que fez transbordar um copo cheio há séculos por uma prática cruel que é recorrente em todo o mundo: a desigualdade racial. É ela que alimenta esse sentimento de superioridade, de um lado, e, muitas vezes, de ódio, de outro.
O que o mundo está assistindo agora é a explosão de mais uma crise de revolta, de indignação de grupos historicamente injustiçados por sua cor, sua religião, sua origem e outras características. O bestial assassinato de Floyd, mostrado ao mundo, esmagado sob os joelhos de um policial branco, desencadeou a onda de protestos a que o mundo assiste hoje. A luta contra o racismo é a ponta de lança de um movimento que estava latente: a luta contra a desigualdade de todas as formas. A luta contra a ação de grupos fascistas, de governos fascistas, em todo o mundo, que oprimem seus cidadãos.
Movimentos que conseguem agregar inocentes úteis de todas as cores, idades e condições sociais. A prevalência desses grupos é um fenômeno cíclico, e nós estamos vivendo esse ciclo de mandonismo de que Estados Unidos e, infelizmente o Brasil são exemplos claros.
Tempos difíceis, agravados por uma pandemia que devora vidas de todas as raças, provocando um verdadeiro pandemônio mundial, que não vai deixar 2020 acabar. Infelizmente, que me perdoem os crédulos, não vejo solução no curto prazo. Podemos até sufocar esses movimentos, mas o sentimento de revolta dos injustiçados permanecerá. É como fogo de serragem: calmo na superfície e em brasas na base.
Mas as dificuldades não podem ser a justificativa para a inércia. Precisamos buscar logo a superação das desigualdades. Quanto mais rapidamente chegarmos à igualdade, mais rapidamente vamos começar as curar as feridas que a humanidade lambe há anos.
Este é um problema a ser enfrentado por todos nós. A simples indignação diante das cenas de violências e injustiças contra quem quer que seja, até mesmo contra um animal, não nos faz melhores. Mentimos para nós, alimentando nossa próxima covardia, quando esbravejamos nas redes sociais contra esses horrores. Alimentamos esse estado de coisas quando nos calamos diante da desfaçatez de políticos que ajudamos a eleger e que se calam diante das barbaridades cometidas pelos radicais aliados.
É hora de procurar uma forma de agir, de tentar começar uma mudança consistente no mundo. Sem violência, claro. Sem apenas invocar o nome de Deus, claro. Com ideias e participação.
Por Marco Aurélio