Vendas de ivermectina em junho de 2020 superam as de todo 2019
Só no mês de junho, o mercado farmacêutico vendeu cerca de 8,6 milhões de caixas de ivermectina. Isso representa uma variação percentual de 1222% se comparado às 650 mil vendidas no mesmo mês de 2019.
O volume de junho de 2020 é maior que as vendas somadas de todo ano de 2019, de cerca de 8,2 milhões de caixas. Em 2020, o total já ultrapassou 16,8 milhões.Os dados são da consultoria especializada em saúde IQVIA, em levantamento disponibilizado pelo Sindusfarma (Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos) e pelo Conselho Federal de Farmácia (CFF).
Entre os meses de 2020 a maior variação ocorreu de março a abril -de 820 mil caixas para dois milhões, aumento de 149%-, mas continuou subindo nos meses seguintes: 82% de abril a maio, e 132% de maio a junho.
Sem eficácia comprovada contra a Covid-19, a ivermectina é um vermífugo que vem sendo distribuído por prefeituras e planos de saúde, e é consumido pela população de forma preventiva ou como suposto tratamento para eventuais sintomas.
Pacientes se mostram confusos sobre a necessidade de tomar o medicamento.
A advogada Márcia Faelli, 59, foi ao cardiologista para um exame de rotina com a filha no final de abril e voltou com receita para ivermectina contra a Covid-19.Inicialmente, o médico recomendou a posologia contida na bula, mas num exame de retorno, um mês depois, mudou a dose para um comprimido por semana ao longo de sete semanas.
Nesse momento, Faelli não encontrou o medicamento em farmácias de Campinas (SP), onde mora, e desistiu de tomar o remédio.
“Conversei com meu filho, que discordava de tomarmos o medicamento, li artigos. A dose única nós temos o costume de tomar todo ano, mas a ideia de tomar um por semana me deixou meio ressabiada”, diz. Em isolamento, ela diz que não mudou de comportamento quando tomou o vermífugo.
Uma amiga, em áudio pelo WhatsApp, contou que foi ao médico que a tratou de um câncer e escutou que não precisava ter tomado a ivermectina de forma preventiva.
“De forma preventiva não é mais para eu tomar. Então não sei, cada um fala uma coisa, a gente não sabe o que fazer, né? Eu vou seguir ele, porque é meu médico, não vou tomar mais”, completa.
“Não sei porque estão receitando, não há qualquer evidência científica de que seja eficaz”, afirma Sandra Farsky, vice-presidente da ABCF (Associação Brasileira de Ciências Farmacêuticas).
Nos cinco primeiros meses de 2020, a prescrição médica da ivermectina aumentou 1.921% em comparação com o mesmo período de 2019, segundo levantamento do CFF.
O presidente do Conselho, Walter da Silva Jorge João, avalia como positiva a resolução da Anvisa publicada no dia 23 de julho aumentando o controle sobre a compra do medicamento.
“Essa busca por remédios [contra a Covid-19] é uma demonstração clara de como o medo está influenciando ainda mais o hábito que já existia na população brasileira de se automedicar”, diz Silva.
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