Recurso para tratamento da Hanseníase favorece combate à doença em Rondônia
Como antigo leprosário de Rondônia, o Hospital Santa Marcelina representa um centro de referência em tratamento da Hanseníase e serviu de modelo para outras unidades de saúde do Brasil, na destinação de recurso do Ministério da Saúde, para prevenção e reabilitação da doença infectocontagiosa que afeta pele e nervos. O reconhecimento foi possível por meio da Agência Estadual de Vigilância em Saúde (Agevisa) e vai além do orçamento que beneficiará muitos pacientes, pois fortalece a inserção das pessoas que antigamente eram isoladas da sociedade.
Publicado no Diário Oficial da União, na portaria n° 3.431, de 24 de outubro de 2018, o recurso de R$ 76.900 destina-se à aquisição de materiais de consumo, como medicações, tensiômetros, exames de contato, material gráfico, desenvolvimento de atividades externas com ações de atendimentos básicos nas comunidades e blitz solidária de combate à Hanseníase. O Hospital Santa Marcelina é referência na área de reabilitação e prevenção com a cirurgia de neurólise, quando a doença afeta o sistema nervoso.
O recurso descende da vigilância e saúde e o custeio do projeto pede a elaboração de um plano de ação. O recurso deve ser utilizado a partir da segunda quinzena de fevereiro, após liberação por meio da Agevisa. “Um dos indicadores para que esse recurso viesse do Ministério da Saúde para Rondônia foi em função das Irmãs Marcelinas, comunidade sentinela, que tem a base do Sinan instalado (Sistema Nacional de Notificação, onde todos os acidentes e agravos de forma geral são registrados), registrarem as notificações compulsórias. A importância do Sinan é que o Ministério pode saber o que está acontecendo nos Estados, para as políticas públicas se desenvolverem naquela localidade”, explicou a diretora de vigilância, Ana Flora Camargo Gerhadt.
Conhecido como ex-hospital colônia, se tornou referência por sua história. Em 1954, um decreto acabou com a internação compulsória. Rondônia foi a última localidade do país a fundar uma colônia, chamada de “Colônia Jaime Abem Athar”, sendo construída longe da cidade, para que as pessoas vivessem isoladas, por serem diagnosticadas com, até então, a “lepra”, nome antigo dado à doença. Depois de várias administrações, a ex-colônia foi assumida pelas Irmãs Marcelinas, em 1975. Naquela época, os pacientes viviam excluídos da sociedade e as crianças que nasciam das famílias alojadas, eram retiradas de suas casas e levadas ao Educandário Belisário Pena, localizado em Porto Velho, onde em alguns casos não conheciam seus pais. Com a chegada das Irmãs, a história do hospital começou a mudar, primeiramente com o nome que passou a ser Hospital Santa Marcelina e hoje atende os pacientes com hanseníase de Rondônia e outros estados, que saíram do isolamento e fazem parte da sociedade.
“É uma doença que de certa forma, por mais que a gente trabalhe o estigma ainda existe. A gente sabe que vai beneficiar a inclusão social, essa área de prevenção e reabilitação. E quando a gente fala em reabilitação, a gente não fala só em reabilitação física, você trabalha todo o conceito de saúde, físico, psico, social, é oportunizar para as ações de controle de estado”, afirmou Albanete Mendonça, coordenadora estadual de controle da Hanseníase.
TRATAMENTO DA HANSENÍASE EM RONDÔNIA
O sonho de todos os profissionais na área da saúde é que os pacientes não passem por sequelas com a doença, porém a Hanseníase causa sequelas, como a alteração de sensibilidade, onde o paciente é encaminhado para a oficina ortopédica do Hospital Santa Marcelina, que produz sapatos, sandálias e palmilhas adaptados para cada necessidade e fornecidos gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O hospital conta com uma equipe de mais de 30 pessoas envolvidas no diagnóstico, tratamento e reabilitação, além de ser referência como o único que opera pacientes com inflamação dos nervos periféricos nos brações e pernas, com cirurgias realizadas por três ortopedistas especialistas na doença.
A coordenação da Agevisa atua na capacitação de profissionais das unidades de saúde para o tratamento da Hanseníase comum. Os pacientes são encaminhados da unidade básica de saúde onde fazem tratamento, e nos casos mais severos, o hospital segue com o acompanhamento e procedimentos. Com uma estrutura completa, oferece serviços diversos como a oficina de reabilitação, com equipe de fisioterapeutas, e atendimento psicológico, centro auditivo, centro oftalmológico, exames de imagem, e internação (retaguarda do Hospital João Paulo II, com 100 leitos disponíveis).
Nas casas que eram utilizadas pelos pacientes do antigo leprosário, o hospital fornece alojamentos para as pessoas que residem em outras cidades e estão em tratamento. Algumas das residências foram adaptadas como padaria e laboratório fitoterápico, que fabrica produtos utilizados no tratamento da Hanseníase. Vale destacar o grupo de autocuidado, criado em 2015 preconizado pelo Ministério da Saúde, para conscientizar o paciente e seus familiares sobre a importância dos cuidados em casa, evitando maiores sequelas, com palestras voltadas também para as finanças e nutrição, oficinas de culinária e artesanatos, além de passeios, formando uma rede de apoio com troca de experiências e vínculos de amizades.
O paciente Gilsenildo, advogado residente no município de Sinop (Mato Grosso), descobriu a doença em 2016 e após cirurgias para retiradas de nódulos no tornozelo e diagnósticos equivocados, encontrou um médico especialista na doença que o encaminhou ao Hospital Santa Marcelina, para possível procedimento cirúrgico de neurolise, devido à gravidade das sequelas. “Procurem a unidade mais próxima de saúde para esse diagnóstico”, reforçou Cleumar Nascimento, enfermeiro responsável pela coordenação do Programa da Hanseníase no Hospital Santa Marcelina, com o alerta à população sobre os cuidados que a doença requer e como o diagnóstico precoce pode prevenir sequelas.
Fonte:SECOM