Petrobras negocia acordo de patrocínio com a MacLaren-Honda
Acordo, que prevê desenvolvimento de combustível e óleo lubrificante, é tiro no escuro
Os integrantes da McLaren e da Honda que eventualmente poderiam falar do assunto estavam tão concentrados em fazer o modelo MCL32 funcionar, ganhar quilometragem no Circuito da Catalunha, em Barcelona, na primeira sessão de testes da pré-temporada, concluída quinta-feira, que não seria nem mesmo profissional perguntar algo a respeito. É muito provável que não dissessem nada também.
O fato é que a área de marketing da equipe com a qual Ayrton Senna foi três vezes campeão do mundo, 1988, 1990 e 1991, negocia com a direção da Petrobras um contrato de patrocínio e desenvolvimento de combustível e óleo lubrificante. Algo semelhante ao que a Petrobras teve, com sucesso, com a Williams, de 1998 a 2008. A estatal brasileira voltou a investir no time inglês de 2014 até dezembro do ano passado, mas apenas como patrocinadora. Estima-se que o contrato era de 5 milhões de euros (R$ 16 milhões) por ano.
O modelo de negócio, agora, com a McLaren, seguiria, em princípio, o mantido com a Williams por 11 temporadas e levou Frank Williams elogiar explicitamente o trabalho de desenvolvimento da gasolina realizado pela Petrobras, depois de o fornecedor de motor, BMW, aprovar seu uso, após exaustivos testes. A montadora alemã foi parceira da Williams, escuderia que tem sete títulos mundiais de pilotos e nove de construtores, de 2000 a 2005. Em 2006 a BMW adquiriu a Sauber transformando-o no seu próprio time, mantido até o fim de 2009.
A F1 é uma plataforma que há quase duas décadas interessa a Petrobras, como a maioria das grandes empresas de petróleo do mundo, por ser um laboratório excepcional para o desenvolvimento de tecnologia de combustível e óleos lubrificantes para o motor, agora unidade motriz, por conta da era híbrida, e a transmissão. E, claro, a exposição da marca no mundo todo proporcionada pela F1.
Com a Mercedes, parceira da Williams desde 2014, a Petrobras não avançou no projeto de pesquisar sua própria gasolina e enviar aos alemães para testá-la no banco de provas. Até porque a estrutura criada no Rio de Janeiro no tempo da relação com a Williams e de pródigo crescimento técnico deixou de ser operante.
Recriar o departamento
Até onde se sabe o setor está sendo remontado e diante da complexidade crescente da gasolina da F1 levará bom tempo até a estatal brasileira poder disponibilizar para a Honda uma primeira mostra do combustível para o teste, na hipótese de o negócio sair.
No que se refere ao óleo lubrificante vale o mesmo, vai demorar, talvez ainda mais, pois o tema da gasolina significa, basicamente, mais performance que confiabilidade do equipamento, enquanto o óleo lubrificante é bem mais comprometedor da resistência da unidade motriz e transmissão.
Assim, se houver acordo, não será nesta temporada que os pilotos da McLaren-Honda poderão falar nos produtos da Petrobras. As dificuldades técnicas dos japoneses são tão grandes, tão básicas, ainda, que a última coisa que pensariam em fazer seria verificar qual gasolina pode representar alguns cavalos a mais de potência, sem comprometer a durabilidade da unidade motriz.
Vale lembrar que o regulamento limita, este ano, a quatro unidades motrizes por piloto para um calendário de 20 etapas. É um exercício de extrema dificuldade fazer essas unidades resistirem, na média, cinco provas.
Para se ter uma ideia do desafio que a Honda enfrenta hoje, apesar de esta ser sua terceira temporada na F1 da tecnologia híbrida, Fernando Alonso e Stoffel Vandoorne, os pilotos da McLaren, usaram três unidades motrizes nos quatro dias de testes da semana passada, enquanto a Mercedes e a Ferrari, apenas uma. A Renault, da RBR, duas (veja abaixo vídeo do Esporte Espetacular sobre os testes).
E sem que Alonso e Vandoorne tivessem sua unidade ajustada para trocarem as marchas no limite de 15 mil rpm estabelecido pela regra, a fim de preservar mais a unidade motriz da Honda.
Como a Petrobras está reiniciando os seus estudos na área dos combustíveis da F1, também pela diversidade das características de seu tempo de sucesso na competição, na eventualidade da assinatura do contrato com a McLaren a natureza da parceria seguirá sendo de apenas patrocínio da escuderia com o segundo melhor retrospecto da história, com 12 títulos mundiais de pilotos, diante de 15 da Ferrari, a primeira colocada, e 8 de construtores, enquanto os italianos têm 16.
Muitas incertezas no ar
Tanto a Honda precisa dispor de um produto confiável como a Petrobras de uma gasolina que atenda as severas exigências da F1. Não é projeto que se resolva de um ano para o outro. E no caso da montadora japonesa, há até mesmo muitas incertezas no ar. Desde a reestreia na F1, em 2015, como fornecedora da unidade motriz da McLaren, bem como principal patrocinadora do projeto, incrivelmente a evolução foi bem pequena, apesar do enorme investimento realizado e troca do diretor geral do programa de F1.
Há exato um ano a Honda substituiu o engenheiro Yasuhisa Arai pelo mais acessível e de cultura um pouco mais ocidental Yusuke Hasegawa, a pedido da direção da McLaren. E agora no treino de Barcelona, quarta-feira, Hasegawa pediu desculpas aos pilotos da McLaren e ao time por deixá-los na mão logo no início dos trabalhos de preparação para o campeonato.
Se a Honda condicionar performance tão comprometedora da McLaren este ano, como foi em 2016, apenas sexta colocada, com 76 pontos diante de 765 da Mercedes, campeã, e em 2015, penúltima classificada, com 27 pontos, ao passo que a Mercedes primeira fez 703, o próprio futuro da associação McLaren-Honda estará em xeque. Por quebra de confiança.
Os dois anos de ensinamento da tecnologia híbrida, 2015 e 2016, já deveriam ter feito os japoneses atingirem nível mínimo aceitável de desempenho, nem de longe demonstrado até agora.
É possível que a direção da Petrobras esteja acompanhando esse drama da McLaren e da Honda com atenção. Ao menos seria prudente fazê-lo, antes de eventualmente bater o martelo e assinar o contrato, cujo valor mínimo anual não seria inferior ao mantido com a Williams entre 2014 e dezembro.
As quatro construtoras de unidades motrizes se aproveitaram da liberdade total concedida agora pelo regulamento e projetaram unidades completamente novas para o campeonato programado para começar dia 26 em Melbourne, na Austrália. É uma segunda geração de unidades que está chegando às pistas, de performance bem mais elevada, em todos os parâmetros. Ao menos deveria ser.
Hoje a Honda trabalha com British Petroleum Castrol, empresa britânica e iraniana, depois que os norte-americanos da Esso Mobil Exxon surpreendentemente deixaram a McLaren, em dezembro, após serem seus parceiros desde 1995, para trabalhar com a RBR, que perdeu a Total, da França, antiga associada da Renault, sua fornecedora da unidade motriz.
O modelo MCL32-Honda de Alonso e Vandoorne, agora pintado na cor original da McLaren, laranja, tem estampado na frente a marca Castrol, o que causa estranheza a quem estava acostumado há 22 anos ler Mobil.
O mesmo vale para o RB13-Tag Heuer de Daniel Ricciardo e Max Verstappen da RBR. A marca Esso aparece nas paredes externas do aerofólio dianteiro, enquanto Mobil na porção superior frontal do chassi e nas laterais da tomada de ar da unidade motriz. Todos liam desde 2007 a marca Total.
Tanto o MCL32-Honda da McLaren quanto o RB13-Tag Heuer (Renault) da RBR voltam ao Circuito da Catalunha, agora, terça-feira, no primeiro dos quatro últimos dias de treinos da pré-temporada.
Fonte: globoesporte