Pecuária leiteira ocupa um terço das propriedade rurais de Rondônia
Até o ano passado o fundo Proleite já havia financiado a implantação de mais de mil projetos de pastejo rotacionado.
A importância econômica e social da pecuária leiteira em Rondônia fica mais evidente quando se observa que mais de um terço das propriedades rurais do estado se dedicam à produção de leite. Nos municípios menores é a atividade que mais gera postos de trabalho e melhor distribui renda, fazendo girar a roda da economia com a injeção de R$ 52.800.000 no mercado a cada mês.
O leite é um produto que não depende de safra, a produção é diária. Os contratos dos produtores com os laticínios têm pagamentos mensais, como se fossem salários. Quando os produtores recebem, redistribuem o dinheiro no comercio local, pagando o fornecimento de insumos usados na produção e gêneros de uso cotidiano da família. “O leite cobre o custeio das atividades de rotina e facilita a gestão da propriedade rural, liberando os rendimentos das culturas de safra, inclusive aqueles obtidos com a venda dos bezerros, para o produtor fazer novos investimentos”, explica o médico veterinário da Emater-RO, José de Arimateia, mostrando o caderno de gestão da propriedade, uma publicação impressa, produzida pela Emater-RO para ajudar os produtores no controle administrativo e contábil da propriedade rural.
O perfil da pecuária leiteira em Rondônia começou a mudar a partir dos anos dois mil, com o movimento de produtores insatisfeitos com os resultados obtidos na atividade. A maior reclamação deles era com os preços pagos pelos laticínios, o Estado precisou intermediar o diálogo entre produtores de leite e a indústria. Foram chamados para participar da conversa a Secretária de Estado da Agricultura, a Emater-RO e a Embrapa entre outros, e logo de início percebeu-se que a falta de rendimento da atividade devia-se mais à baixa produtividade e pouca qualidade do produto do que aos preços, propriamente ditos.
Naquela época a produtividade andava abaixo de três litros de leite/dia por vaca e o índice de rejeição de leite na plataforma da indústria estava acima de 30%, por causa da acidez. Para mudar essa realidade foi criado o Fundo de Desenvolvimento da Pecuária Leiteira, que ganhou o nome de Proleite, e com ele foram desenvolvidos programas e projetos integrando pesquisa, extensão rural e governo estadual, com o objetivo de melhorar a produtividade na cadeia produtiva do leite.
O órgão de assistência técnica e extensão rural ficou encarregado de executar os projetos e políticas públicas criadas para desenvolver a cadeia produtiva do leite. As primeiras ações do Proleite executadas pela Emater-RO foram no sentido de melhorar a qualidade e diminuir o índice de rejeição do leite na plataforma do laticínio, depois foram criados os projetos para introdução de capineiras, uso da cana mais ureia, controle da mastite e práticas de melhoramento genético.
Para os padrões de atividade agropecuária o processo de mudança foi rápido. Para se ter uma ideia, há dez anos a produtividade média de leite por vaca ainda era de três litros/dia e no último levantamento feito por ocasião da comprovação da segunda vacinação contra aftosa em 2017 apurou-se uma produtividade de cinco litros de leite por vaca/dia.
“O segredo do sucesso na produção leiteira rondoniense está baseado no tripé: genética, alimentação e sanidade”, diz o técnico da Emater-RO, acrescentando que a boa aplicação da técnica exige uma administração do empreendimento comprometida com os resultados. Os projetos são executados individualmente, mas interagindo entre eles.
GENÉTICA
No intuito de promover o melhoramento genético do plantel, o governo trabalha com o Projeto inseminar. Este é um dos projetos públicos de melhoramento genético mais bem sucedido do país. Participam dele 270 organizações de produtores rurais e 1.100 proprietários recebem assistência técnica gratuita da Emater-RO.
Na prática de inseminação artificial, além da orientação técnica, a Emater-RO também fornece as botijas de nitrogênio líquido, guardadas estrategicamente na sede da associação ou de grupo solidário de produtores. Em geral os produtores compram o sêmen de grandes fornecedores nacionais ou internacionais e para resfriamento das botijas e conservação do sêmen adquirem o nitrogênio em valores subsidiados pelo governo do Estado através do Fundo Proleite.
A mesma estrutura de botijas já está dando suporte a mais um avanço tecnológico no campo da reprodução e melhoramento genético. É o projeto de fertilização in vitro iniciado como projeto piloto em 50 propriedades beneficiadas com 500 prenhezes positivas nos sete municípios do cone sul do estado.
ALIMENTAÇÃO
Para melhorar a alimentação do rebanho o governo criou o Projeto Manejo de Pastagens que tem o caráter de vitrine ou unidade didática, para que os técnicos possam demonstrar na prática as técnicas adequadas para produção de forragem. Até o ano passado o fundo Proleite já havia financiado a implantação de mais de mil projetos de pastejo rotacionado.
O padrão no manejo rotacionado é a divisão da área de pastagem de 28 a 36 piquetes cercados com um fio de arame eletrificado, com tamanhos variados dependendo da necessidade e disponibilidade do proprietário, de modo que as vacas fiquem um dia em cada piquete, retornando ao primeiro quando este já estiver recuperado. O subsidio oferecido no projeto inclui ainda a compra do material da cerca e o preparo do solo com calagem e adubação e, em muitos projetos, os produtores colaboradores incluem por conta própria um sistema de irrigação, o que naturalmente melhora a produção de massa verde durante o período seco.
Outra prática orientada para melhorar a alimentação do rebanho é a produção de silagem. Geralmente os criadores que produzem silagem estão vinculados a alguma associação onde foi alocado um conjunto de máquinas ensiladeira. Esse modelo associativo ajuda a baixar custos da produção.
SANIDADE
Em Rondônia, manter a saúde do rebanho nunca foi uma opção, sempre foi uma obrigação para criadores e governos. Para garantir o combate às principais doenças dos bovinos, o governo do estado investiu na estrutura e fortalecimento da Agência de Desenvolvimento Agrosilvopastoril do Estado de Rondônia (Idaron), que juntamente com a Emater-RO aturara no combate ás principais doenças dos rebanhos.
Por iniciativa da assistência técnica foi introduzido na rotina das ordenhas o teste de mastite, usando-se a caneca de fundo preto ou a raquete do “Califórnia Mastite Teste” – instrumentos indicados para detectar sinais da mastite subclínica e clínica. Esta prática contribuiu para a redução do leite ácido, além de indicar o tratamento da vaca.
Outro problema que ainda incomoda os pecuaristas é a brucelose, porque além de causar prejuízo direto na saúde dos animais, esta doença também é uma zoonose – doença dos animais que também acomete os humanos. Seu agente infeccioso é a bactéria Brucella abortus, que pode ser transmitida através do leite e queijo cru, afetando a qualidade do produto para o mercado.
Atualmente a brucelose está sendo controlada. No primeiro inquérito, em 2004, Rondônia tinha um índice de prevalência de 6,2% do rebanho com animais afetados. Depois, quando se fez o último inquérito em 2014, a taxa havia caído para 1,9%, índice já considerado baixo.
Para baixar essa prevalência da brucelose no Estado foi realizado um ação conjunta onde os técnicos da Emater-RO fizeram as vacinações nas propriedades assistidas. Com essa ação, a prevalência de brucelose por propriedade que era 35%, altíssima no primeiro inquérito, baixou para 12,2%, em dez anos
Além da brucelose, a febre aftosa continua sendo um fantasma que assombra a pecuária em todo o mundo. Entretanto, no estado essa doença está totalmente controlada e Rondônia já é reconhecida como livre de aftosa com vacinação, com mais de vinte anos sem que haja notificações da doença.
As campanhas de vacinação têm comprovação de mais de 99% das propriedades com criações vacinadas e a previsão para 2019 é o reconhecimento pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) de Rondônia como estado livre de aftosa sem vacinação.
Fonte:Secom