Papa convocou líderes da Igreja para discutir crise de abusos sexuais
A Igreja Católica anunciou nesta semana que o papa Francisco chamou os líderes das conferências episcopais de todo o mundo para reunião entre 21 a 24 de fevereiro no Vaticano sobre a proteção de crianças e adolescentes contra abusos sexuais de religiosos.
O encontro é convocado no momento em que aumenta a pressão sobre o Vaticano devido à inação e ao acobertamento da Cúria em relação a casos de abusos sexuais em países como Chile, Austrália e Estados Unidos. As revelações levaram ao surgimento de outros casos, como na Alemanha.
O anúncio foi feito após um encontro de três dias do chamado C9, grupo de nove cardeais que se reúnem quatro vezes ao ano para aconselhar o pontífice. Desta vez, o escândalo dos abusos sexuais foi o tópico principal da reunião, à qual foram seis membros.
O C9 se reuniu semanas depois de duas denúncias envolvendo religiosos americanos. Em 14 de agosto, a Suprema Corte da Pensilvânia revelou a maior investigação até hoje de abusos sexuais por sacerdotes católicos nos EUA. Segundo o relatório, 301 padres no estado cometeram o crime nos últimos 70 anos.
Na ocasião, o Vaticano divulgou nota expressando “vergonha e tristeza” com o episódio e afirmando que o papa Francisco está do lado das vítimas e que “aqueles que sofreram são sua prioridade”.
No dia 25, o pontífice pediu perdão por crimes passados da igreja. Um dia depois, o ex-núncio apostólico nos EUA Carlo Maria Viganò pediu a renúncia do papa por acobertar as acusações de abuso sexual atribuídas ao cardeal emérito Theodore McCarrick, arcebispo emérito de Washington.
McCarrick foi suspenso pelo pontífice três dias depois, e o proibiu de exercer seu ministério, gesto sem precedentes na história recente da Igreja.
Nesta quinta (12),o papa receberá os principais membros da Conferência Episcopal americana, incluindo o arcebispo de Boston, Sean O’Malley, que preside a comissão pontifícia para a proteção de crianças e adolescentes.
O’Malley anunciou no domingo (9) que serão criados comitês de consultas para sobreviventes dos abusos dos sacerdotes e prevê traçar linhas mestras de combate antes do encontro dos líderes.
Um sinal de que pode haver mudanças no comando das conferências pelo escândalo veio na segunda (11), quando o C9 mencionou a possibilidade de uma mudança na estrutura e na composição do conselho, segundo ele, pela idade avançada de seus membros.
A Igreja descarta oficialmente as alterações, mas os principais alvos seriam o chileno Francisco Javier Ezzázuriz, 85, arcebispo emérito de Santiago, e o australiano George Pell, 77, tesoureiro do Vaticano.
O primeiro é acusado de fazer vista grossa em relação às denúncias de abuso, principalmente às relativas ao padre Fernando Karadima, nas décadas de 1970 e 1980. Em visita ao país sul-americano em janeiro, Francisco foi criticado por dar pouca atenção às críticas aos bispos envolvidos.
O papa, porém, deu início a uma investigação que levou à renúncia de 39 bispos entre maio e junho, incluindo Juan Barros, bispo ligado a Karadima que havia sido indicado pelo pontífice em 2015.
Já Pell enfrenta acusações judiciais na Austrália por abusar sexualmente de duas crianças. A Justiça do país oceânico condenou em julho o arcebispo de Adelaide, Philip Wilson, a um ano de prisão por encobrir os crimes sexuais do padre James Fletcher nos anos 1970.
Recentemente, o papa aceitou a renúncia, também por crimes sexuais, do bispo hondurenho Juan José Pineda, próximo do cardeal Óscar Maradiaga, líder do C9. A próxima reunião do grupo está marcada para dezembro.
Fonte:Folhapress