Pancreatite autoimune: Uso da IgG4 na previsão de estágios finais

Pancreatite autoimune: Uso da IgG4 na previsão de estágios finais

A pancreatite autoimune (PAI) é uma forma de pancreatite crônica que acomete mais frequentemente homens de meia-idade, com resposta dramática à corticoterapia e que pode ser definida em tipo 1 (pancreatite esclerosante linfoplasmocítica) e tipo 2 (pancreatite idiopática ductocêntrica), sendo que a primeira vez se associa à elevação da subclasse IgG4 das IgG (IgG4).

No PAI, a IgG4 desempenha tanto um papel diagnóstico quanto prognóstico, ao se configurar como potencial preditor de recidivasuma complicação que ocorre ao menos um a cada cinco pacientes.

Em um estudo de coorte retrospectiva, publicado em setembro de 2023 no Jornal Mundial de Gastroenterologiapesquisadores chineses trouxeram os dados de 213 indivíduos com diagnóstico de PAI, acompanhados entre 2006 e 2021 no Hospital Geral de Pequim.

Pancreatite autoimune

Metodologia do estudo sobre pancreatite autoimune

Os objetivos foram comparar as características clínicas, resposta terapêutica e resultados com base no nível sérico basal de IgG4.

A população constituiu majoritariamente por casos de PAI do tipo 1 (189 vs. 24 pacientes), com taxa de homens para mulheres superiores a 3, média de idade próxima aos 58 anos e tempo de seguimento mediano de 53 meses.

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Os pacientes foram alocados em dois grupos:

  • Níveis elevados de IgG4 (148 pacientes): IgG4 superior a duas vezes o limite superior da normalidade (LSN);
  • Níveis normais de IgG4 (65 pacientes): IgG4 inferior duas vezes ao LSN (≤ 402 mg/dL).

A partir dos grupos referidos, as seguintes diferenças foram identificadas:

Níveis de IgG4ElevadosNormaisValor P
IgG41.420,5252,7mg/dL<0,001
Sexo masculino60,3%56,5%0,047
VHS 1ª hora (mm)43,421,10,002
Proteínas totais72,5g/L67,2g/L<0,001
IgE635,6231,7 UI/mL0,002
Complemento (C3)100,6119mg/dL0,05
Eosinófilos6,2%3,9%0,001
Estenose ou dilatação do ducto pancreático23,6%37,9%0,045
Atrofia pancreática1,6%8,6%0,020
recidiva17,6%6,2%0,030
Dose média de prednisona42,5 mg/dia40 mg/dia0.750
Tempo médio de corticoterapia8 semanas8 semanas0.200

Na análise multivariada foram elucidados os seguintes fatores de risco independentes para a recidiva:

  • IgG4> 2 vezes o LSN: HR 3.583 (P=0,020);
  • IgA> 1 vez o LSN: HR 5.908 (P=0,029);
  • Idade> 55 anos: HR 2.383 (P=0,036).

Entre as limitações do estudo, citamos uma amostra pequena, proveniente de um estudo asiático unicêntrico, o que pode ter influenciado na maior prevalência de anormalidades pancreáticas entre os pacientes com valores de IgG4 normais; o tratamento heterogêneo destinado a dois grupos, a exemplo da proporção mais elevada de monoterapia com corticoides no grupo de IgG4 elevada; e ausência de avaliação de possíveis fatores genéticos e ambientais relacionados à recidiva.

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Conclusão e mensagens práticas

  • Na pancreatite autoimune (PAI), os níveis séricos elevados de IgG4 estão associados à maior atividade do sistema imunológico e, em conjunto com os valores de IgA e idade, foram considerados como fatores de risco independentes para a recidiva.

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Autor

Graduação em Medicina em 2013 pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Residência em Clínica Médica (2016) e Gastroenterologia (2018) pelo Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (HC-UFMG). Residência em Endoscopia digestiva pelo HU-UFJF (2019). Preceptor do Serviço de Medicina Interna do HU-UFJF (2019).

Referências bibliográficas:Ícone de seta para baixo

  • Zhou GZ, Zeng JQ, Wang L, Liu M, Meng K, Wang ZK, Zhang XL, Peng LH, Yan B, Pan F. Características clínicas e resultados da pancreatite autoimune com base no nível sérico de imunoglobulina G4: um centro único, retrospectivo estudo de coorte. Mundial J Gastroenterol. 2023 21 set;29(35):5125-5137. DOI: 10.3748/wjg.v29.i35.5125.

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