Quatro anos perdidos.
Passados o susto e o trabalho para se livrar das duas denúncias da Procuradoria Geral da República (PGR), o presidente Michel Temer (PMDB) quer aproveitar a etapa final de seu governo para continuar com a agenda prevista pelo programa Ponte para o Futuro, de seu partido, criado quando ele era apenas um vice-presidente decorativo da então titular do cargo, Dilma Rousseff (PT).
Ocorre que Temer já deve ter percebido que dificilmente será possível, pois, agora, os olhos de quase todos no meio político já estão voltados às eleições de 2018. O governo tinha a expectativa de que, virando a página das denúncias, veria nos jornais o debate sobre a reforma da Previdência, para ficar no exemplo mais simbólico. O que se vê, porém, é um debate acirrado sobre o próximo pleito, como se o atual governo já estivesse em seus dias finais.
Não é por acaso que antigos aliados, como os presidentes da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado Federal, Eunício Oliveira (PMDB-CE), andam disparando declarações contrárias ao interesse do governo. Ambos já perceberam que a questão colocada agora é a da eleição e, por isso, não querem nem pensar em ter suas imagens vinculadas a um governo fraco e impopular.
É por essa razão que ambos buscam impor suas próprias agendas nas Casas que comandam, ignorando o que interessa ao Palácio do Planalto. Trocando em miúdos, para eles, é hora de pautas mais palatáveis para a população, como é o caso do pacote de segurança pública que Rodrigo Maia quer discutir na Câmara.
Nesse cenário, o governo pode esquecer qualquer chance de aprovar medidas que melhorem as contas públicas e que apontem sinais positivos ao mercado. Essa guerra o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, perderá, inevitavelmente.
Com isso, não é exagero dizer que vivemos quatro anos praticamente perdidos, iniciados logo após a reeleição da então presidente Dilma.
Como ganhou mais por fragilidades do adversário e por uma campanha de marketing bem-feita, embora mentirosa em sua quase totalidade, Dilma não conseguiu levar junto com ela para Brasília uma bancada razoavelmente próxima dos ideais de seu grupo político.
Fortemente rejeitada no Parlamento, fustigada pela operação Lava Jato e com a queda do apoio popular após apresentar um quadro diferente do pintado nas peças publicitárias de 2014, a petista permaneceu um ano e meio apenas sofrendo derrotas significativas no Congresso e tentando permanecer no cargo.
Quando Temer assumiu, seus aliados esperavam deixar para trás a situação enfrentada por Dilma. As polêmicas em torno dos malfeitos praticados por Eduardo Cunha e seu calvário foram o primeiro percalço para que a Câmara votasse aquilo que interessava ao partido.
Houve um pequeno período de êxito para o governo. Nele, Temer conseguiu aprovar o teto de gastos para o serviço público, a reforma trabalhista e a Lei da Terceirização. Não é pouca coisa, principalmente por se tratar de temas espinhosos. Mas ficou nisso. Logo vieram as dificuldades para sobreviver a duas denúncias, e, agora, com os olhos antecipadamente voltados para as eleições, só resta ao presidente sair pela porta dos fundos. O governo já acabou.
Fonte: Por Marco Aurelio
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