Opinião Jogo Aberto – 29 de Maio de 2018
O Brasil tem jeito II.
A paralisação que se consumou no país há dez dias, a greve dos caminhoneiros, revelou um amplo conjunto de falências até então tolerado, presente na construção de políticas públicas produzidas pelas relações econômicas que nos submetem, especialmente na determinação do custo de vida pelo qual paga a sociedade brasileira.
Desde a notória incapacidade política dos governos, federal e dos Estados, Minas Gerais especialmente, em lidar com eventos da dimensão tomada por esse movimento, passando pela desinformação e pela absoluta desconexão com nossas demandas, enquanto cidadãos, até a entrega da Petrobras a um corpo dirigente limitado tão só à tarefa de recompor o patrimônio da maior empresa nacional, ferido de morte pela ação criminosa de grupos empenhados num processo de corrupção nunca visto, essa greve nos imprimiu um alento, um choque de responsabilidade. As próximas eleições, que escolherão o presidente da República, governadores, membros do Senado, da Câmara Federal e das Assembleias legislativas, serão o momento de exigirmos decência, lisura, competência e o compromisso dos candidatos que se apresentarão para dirigir nossos destinos.
Não podemos ser tolerantes com a omissão a que assistimos de nossos atuais governantes. Nem com a inversão de valores que privilegia o monopólio exercido pela Petrobras a serviço apenas de recompor, com permanente majoração de seus preços, os valores de um negócio de fartos ganhos de seus acionistas. Nem, tampouco, com o improviso e o despreparo dos ministros a quem foi equivocadamente confiada a condução das soluções da crise gerada por um movimento que assumiu a proporção que foi pela incompetência de todos – todos mesmo – os seus agentes. Chegou-se ao absurdo de se dialogar com falsas lideranças, estas sem credenciais mínimas de representação dos grevistas. Um vexame. Não se ouviu de nenhum governador nem uma tímida proposta de renúncia às escorchantes alíquotas de ICMS que tributam os combustíveis e lubrificantes. A tributação de PIS/Cofins, majorada por decreto do presidente Temer neste exercício, permanecerá com o mesmo índice em que está. Se foi alterada por decreto, da mesma forma poderia sem formalidades ser recuada, mas isso não aconteceu.
Não há espaço nos Orçamentos públicos, no nacional ou nos dos Estados, pelo que se tenta convencer a nação, para alterações e consequentes renúncias. Também não se ouviram medidas de corte de despesas, de dotações parlamentares que beiram o imoral, das quais faz uso o Executivo, federal, estaduais e municipais, para que se comprem a desídia, o desleixo, o desmazelo de senadores, deputados e vereadores que não fiscalizam, não controlam nem censuram e trocam sua independência por verbas indenizatórias e cargos de confiança. Nossas leis tributam a produção, o trabalho, mas são benevolentes com os bancos e seus lucros criminosos, que exploram e mortificam a economia popular.
O Brasil tem jeito, repetimos, mas com um mínimo de dignidade e decência.
Por Marco Aurelio