A crise é uma bagunça dramática brasileira.
“Bagunça” já não é a palavra capaz de definir a situação do Brasil. “Bagunça” pode remeter a uma situação juvenil, e a nossa é bem mais grave. Talvez a palavra seja “dramática”, pois o que estamos vivendo é mesmo um drama, que consiste na falta de um mínimo de perspectiva de saída. Foi-se o tempo em que se dizia que o Brasil não corria riscos de cair no abismo porque era maior do que ele. Pois caímos. O país não diminuiu. O que se apequenou foram suas lideranças, que, a bem da verdade, nunca tivemos em profusão. Entre os mais de 60 mil políticos com mandato, poucos merecem ser chamados de líderes, mesmo que locais. Simplesmente têm mandatos que exercem sem brilho, sem expressão.
Lamentavelmente, este é apenas um de nossos problemas e nem é o mais importante. Preocupante mesmo é ver a crise de nosso Judiciário, o único dos Poderes que ainda tem avaliação positiva da população, mas que, junto com o Ministério Público, caminha a passos largos para a perda da credibilidade. As últimas decisões envolvendo a Lava Jato, num prende e solta alucinado, deixam atônita a sociedade. Elas expõem muito mais do que uma interpretação diferenciada do texto da lei. Deixam evidenciada uma briga de egos, em que se busca a interpretação possível que confronte com a de outro magistrado ou com o Ministério Público. E, como a norma permite interpretações, busca-se o limite possível para alterar a decisão do outro, desafeto ou não.
Nossos tribunais são lentos e não transmitem segurança ao cidadão. Antigamente, se dizia que de barriga de mulher, de bumbum de neném e de cabeça de juiz nunca se sabe o que vem. De cabeça de juiz, podem vir, e têm vindo, as decisões mais estapafúrdias. Quem, na visão de um magistrado ou do MP, em determinado momento, é o pior dos bandidos, pode transformar-se em um santo, na visão de outro. Claro que a lei precisa ser respeitada. O que se espera é que não haja, como tem havido, tantas divergências em sua interpretação.
Ao estrelismo de muitos, é preciso que o Judiciário e o Ministério Público levem em consideração que estão trabalhando nessas operações contra a corrupção com uma ferramenta nova, pouco conhecida entre nós. A delação premiada precisa ser utilizada com responsabilidade. Não se pode ir ao limite de usá-la sem qualquer investigação, como não se pode querer a apresentação de provas materiais de todos os fatos denunciados. Não se pode exigir, como têm feito alguns juízes, que um delator apresente provas de que o dinheiro que repassou a alguém é fruto de um superfaturamento combinado.
O que teria ele a apresentar? Um contrato de superfaturamento? Seguir esse caminho é buscar motivos para absolver. Assim como sair denunciando com base apenas na delação é querer condenar. Lançar flechas só porque tem bambu pode não ser o caminho certo. Até porque, ensinam os flecheiros, o bambu é mais usado por ser abundante. Não por ser o melhor material para produzir flecha. É preciso escolher bem.
Fonte: Por  Marco Aurelio