Opinião Jogo Aberto – 24 de Agosto de 2018
A dúvida do centrão.
A dúvida do grupo de partidos que formam o centrão demonstra claramente o cenário de falência ideológica e bagunça generalizada no quadro partidário brasileiro. Afinal, os partidos debatem eventuais alianças sem qualquer compromisso com o norte definido em seus estatutos. A dificuldade de escolher um lado se dá apenas pelo fato de que hoje não está exatamente claro quem vai para o segundo turno e quem tem reais condições de vencer o pleito. Para grande parcela dos partidos do centrão, grupo idealizado por aliados de Eduardo Cunha na época do governo Dilma, o lado que mais tem a ver com seus princípios é o que ganhará.
Tendo aderido informalmente depois a esse “protobloco”, o DEM, do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, é o principal representante e lidera as conversas com candidatos dos mais variados matizes. Seria surreal em outros tempos imaginar o DEM conversando ao mesmo tempo com Geraldo Alckmin (PSDB) e Ciro Gomes (PDT). Soma-se a esse grupo Alvaro Dias (Podemos), que estaria na intermediária entre um e outro nas concepções ideológicas.
Nessa turma também está o PR, que tem dúvidas ainda mais curiosas. O partido tinha claro o apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), se este pudesse ser candidato. Indicaria, inclusive, o vice, que seria o novo filiado Josué Gomes, filho de José Alencar. Ocorre, porém, que o PR é cobiçado e conversa também com Jair Bolsonaro. Nesse caso, o nome preferido do candidato seria o do senador Magno Malta. Com o PT bem à esquerda – ao menos no discurso da eleição que se avizinha – e Bolsonaro bem à direita – ainda que exponha ideias estatizantes em meia dúzia de entrevistas –, é surreal que um partido se coloque entre um e outro.
Diante de tamanha dúvida, surgiram ideias de que esses partidos estivessem unidos em torno de um candidato que eles próprios viabilizassem. Nem a ideia de Josué, pelo PR, nem a de Rodrigo Maia, pelo DEM, vingaram até o momento. Com isso, a tendência maior é que o grupo se desfaça e distribua apoios entre vários candidatos. Uns irão com Alckmin, outros com Ciro, e pode sobrar algum para Alvaro Dias. Certo, porém, é que, vencendo quem vencer, provavelmente eles estarão unidos na busca por lugares no governo em troca de um apoio circunstancial ao novo presidente.
No modelo torto de coalizão criado no Brasil, o centrão, a partir do janeiro seguinte a cada pleito, tende a vencer sempre, ainda que escolha o lado derrotado na disputa eleitoral. Em um cenário tão adverso e fragmentado, quem ousar desafiá-lo pode ficar pelo caminho, ganhando a eleição, mas não levando seu mandato até o final. Não será a primeira vez.
Por Marco Aurélio