OPINIÃO JOGO ABERTO: 22/02/2018
Intervenção e política.
Os efeitos da intervenção federal na área da segurança no Rio de Janeiro vão muito além das mudanças no combate à criminalidade em um dos mais importantes Estados do país. A decisão anunciada pelo governo do presidente Michel Temer (MDB) trará impactos políticos de alto grau no presente e também no futuro, em especial na disputa eleitoral que será travada em outubro.
O primeiro efeito se dá no nível local e está circunscrito ao Rio de Janeiro. A intervenção sepulta o mandato do governador fluminense Luiz Fernando Pezão, do mesmo partido do presidente. Na prática, ao tirar de seu controle a área da segurança, aquela que há anos está em evidência por conta dos históricos problemas com facções criminosas, Temer esvaziou os poderes do emedebista, que concluirá seu mandato quase como uma rainha da Inglaterra, porém sem a pompa da realeza.
Mas os efeitos vão muito além do território do Rio e tendem a ter especial atenção no debate eleitoral brasileiro. Para Temer, que não tem muito a perder, a intervenção federal é uma oportunidade de mudar o noticiário, deixando de lado as enroladas nomeações em ministérios e na Polícia Federal e o fracasso de sua principal aposta: a reforma da Previdência. Mais que isso, um eventual êxito da estratégia contra a criminalidade no Rio pode ajudar a melhorar a combalida aprovação do governo e reacender a chama da esperança de que Temer ao menos concorra à reeleição, embora uma chance de vitória seja remota mesmo nesse cenário.
Se fracassar na estratégia, o que é mais provável, considerando-se o tamanho do problema, a necessidade de um planejamento e ação integrada de longo prazo e o curto período até a eleição, Temer continuará como está: rejeitado fortemente pela população brasileira, tido como corrupto e incompetente.
Quem tem mais a perder no caso do fracasso da operação articulada pelo governo do emedebista é o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ), que traz em seu discurso a defesa da ordem a qualquer custo e da necessidade de endurecer o combate ao crime, com o uso do Exército e de medidas radicais semelhantes à que se desenha. Se a intervenção de Temer der errado, parte do eleitorado que Bolsonaro tenta atrair pode acabar percebendo que suas soluções, que parecem óbvias, mas que de fato são apenas simplistas, não resolvem o problema.
Se o Exército não conseguir combater o crime de forma eficaz, Bolsonaro terá mais dificuldades de impor sua agenda militarista, e a discussão tenderá a voltar ao âmbito de tratar os aspectos sociais do problema. Ainda que dê certo, o parlamentar verá o candidato governista, seja Temer ou qualquer outro, fortalecido no contingente dos que defendem medidas desse espectro. De um jeito ou de outro, o deputado perde com a intervenção justamente no Estado que representa.
Prevendo o fracasso da estratégia do governo e os efeitos para sua candidatura, o próprio parlamentar tratou de apresentar um antídoto assim que a intervenção foi anunciada. Criticou a medida, disse foi decidida dentro de um gabinete, sem discussão com as Forças Armadas, e reclamou de os militares não contarem com o “excludente de ilicitude”, que dá mais liberdade para que o agente federal atire sem precisar explicar em qual circunstância atingiu um suspeito.
Fonte: Por Marco Aurelio