Opinião Jogo Aberto – 21 de Agosto de 2018
Qual a proposta?
Frase dita pela ministra Cármen Lúcia, presidente do Supremo Tribunal, em palestra durante evento jurídico, na semana passada: “Com o que fazem, Brasil era para ter dado errado há muito tempo”. É mesmo, ministra. Mas quem disse que o Brasil deu certo? É bem verdade que em algumas áreas avançamos e estamos no topo do mundo. Mas não podemos tomar a parte pelo todo.
Há muito o que avançar, e o Judiciário é um dos gargalos a serem superados. Muito de nosso atraso deve-se, exatamente, a esse Poder, uma verdadeira tartaruga de bengala, se me permitem o uso de expressão bem popular. A Constituição de 1988 deu ao Judiciário, e, é verdade, ao Ministério Público também, posição de protagonismo na vida brasileira.
E nenhum consegue dar respostas rápidas, vivem se agarrando ao formalismo conveniente, atrasando decisões fundamentais. Não é outra a situação envolvendo a candidatura de Lula. A defesa do ex-presidente usa e abusa do direito de promover chicanas processuais com o intuito claro de atrasar solução. Faz isso porque conhece o comportamento de nossas excelências, que sempre empurram com a barriga a tomada de decisões. Não se importam com a desmoralização do Poder. Não se importam com as consequências que a tibieza de um Poder causa ao povo. Bom seria se fosse este, mesmo muito grave, nosso único problema. Não é.
A campanha eleitoral que está apenas se iniciando mostra que continuamos fazendo tudo para o país dar errado. O que dizem os candidatos – um deles vai chegar lá- é de assustar. Ninguém tem proposta, embora todos afirmem que têm solução para tudo. Um debate eleitoral entre candidatos, em que o grande destaque foi o confronto entre Marina Silva e Bolsonaro, mostra, com clareza, para onde caminhamos. A incapacidade de Alckmin e Meirelles – queiram ou não, os mais preparados – de expor suas propostas, as bravatas de Ciro, o fanatismo religioso de Daciolo e o nada dos demais indicam que, se estamos à beira do abismo, corremos o risco de darmos um passo à frente.
O que nos falta é um líder de verdade, não o que o radicalismo petista quer impingir. Lula não é o líder que tentam fazer descer goela abaixo do país. Mas a sombra dele está aí e, queiram ou não, tem influência no debate eleitoral. É hora de decidir se Lula será ou não candidato. A lei diz que não. O PT diz que sim, e o Judiciário se cala. Silencia-se também em relação à disputa em Minas Gerais. A demora no julgamento das impugnações da candidatura de Marcio Lacerda afeta o andamento das campanhas. Bem-posicionado nas pesquisas, Lacerda não tem a segurança da candidatura, posta em xeque por correligionários que, sem compromissos com a legenda, o PSB, tentam impor coligação com o PT visando a interesses pessoais. Por duas vezes, o TSE adiou o julgamento do caso, gerando danos não apenas para o candidato e para as legendas que o apoiam, mas para todo o processo eleitoral no Estado. E vai ficar assim até que o Judiciário se mova e os políticos deixem de brincar com a democracia.
Por Marco Aurélio