OPINIÃO JOGO ABERTO: 20/01/2017
A depender das principais lideranças do PT, o rancor e indignação com os fiadores no Congresso do impeachment/golpe da ex-presidente Dilma Rousseff já é página virada. Com um discurso de extremo pragmatismo, eufemisticamente chamado de “sobrevivência política”, nomes como o ex-presidente Lula e o ex-ministro dos governos petistas Gilberto Carvalho deram aval para o partido não só se reaproximar de legendas da base do governo Temer no Legislativo, como também apoiar o nome indicado por esse grupo à presidência da Câmara.
Trocando em miúdos, o PT (ou parte dele) deverá apoiar o nome de Rodrigo Maia, do DEM, (o Democratas defendeu em peso a saída de Dilma), em troca da indicação de nomes para a presidência de comissões estratégicas e para a direção da Casa. Durante o mandato do ex-deputado Eduardo Cunha, os petistas foram excluídos de postos importantes na Câmara, fato, no entender da sigla, decisivo para o enfraquecimento da legenda e do próprio governo Dilma na ocasião. “É preciso ter claro que, perdido o Executivo, o Parlamento é a esfera de atuação institucional que nos resta no plano nacional”, defende Carvalho em documento encaminhado a filiados do PT.
A carta do ex-ministro, sob o título de “As difíceis encruzilhadas da vida”, repercutiu de imediato e dividiu a bancada petista no Congresso. Alguns deputados prometem resistir e não apoiar a candidatura de Maia, mas a pressão da cúpula do partido será forte, porque o pano de fundo desse rearranjo do PT para voltar ao protagonismo no Parlamento, mesmo à custa de abraçar inimigos, é a ideia do lançamento da pré-candidatura de Lula à Presidência da República em 2018.
A tragédia ocorrida com o ministro do Supremo Tribunal Federal Teori Zavascki, morto nessa quinta-feira (19) em um acidente aéreo em Paraty, no Rio de Janeiro, para além do drama pessoal, deixa em aberto o futuro da operação Lava Jato. Teori, considerado o ministro mais discreto e fechado a bajulações do STF, era justamente o relator da operação na Corte.
Em suas mãos, estavam, entre outras coisas, o destino das delações de 77 executivos da Odebrecht. A previsão do ministro era, após a homologação, torná-las públicas no mês de fevereiro. Vale lembrar: além do presidente Temer, as delações atingem dezenas de importantes políticos brasileiros de diferentes partidos.
Com a morte de Teori, de acordo com o regimento interno do Supremo, a relatoria da Lava Jato deve ser transferida para o novo ministro indicado para seu lugar. O substituto será escolhido por Michel Temer e depois sabatinado pelos senadores antes de ser aprovado seu ingresso na Corte. Em meio à tragédia e a tantas variáveis possíveis, brotam teorias conspiratórias.
por Marco Aurélio