A quem interessa a ignorância do povo brasileiro?
A despeito das evidências concretas e dos inúmeros estudos acadêmicos que desde a década de 70 do século passado anunciavam as profundas transformações que vinham ocorrendo na economia mundial, o Brasil não se preparou para enfrentá-las adequadamente. E a razão desse despreparo é de ordem essencialmente política, uma vez que à corrupção sistêmica nas instituições públicas não interessam o planejamento das ações governamentais, a boa administração e os interesses que se sobreponham ao cálculo individual predatório de nossos representantes políticos.
Nunca dê muito crédito às teorias aparentemente conspiratórias de que às oligarquias políticas interessavam a manutenção da ignorância popular e o analfabetismo. Hoje, não tenho dúvidas de que isso era, e é, a mais pura verdade. Há um vídeo circulando nas redes sociais em que um repórter entrevista pequenos vendedores de rua nos rincões do Nordeste que mostra bem a que ponto chegou a (des) educação desses brasileiros pobres e por que o coronelismo e, mais recentemente, o PT ali encontram seu principal reduto eleitoral. Em uma pequena feira de rua, uma vendedora oferece uma espiga de milho a R$ 2,50 e duas a R$ 4. O repórter lhe oferece R$ 9 por três espigas, o que foi de pronto rejeitado pela vendedora, que alegou que isso lhe causaria prejuízo. O mesmo acontece com mais três ou quatro vendedores por ele entrevistados. Não é de se estranhar que esquerda e “direita” sejam favoráveis ao voto obrigatório sob o argumento de que todos são iguais perante a lei e aos direitos de cidadania. Mas, também, não é de se estranhar a persistência do mandonismo, do nepotismo e das dinastias corruptas na vida política e, com isso, a persistência da degradante qualidade do ensino público no país. O voto obrigatório não é direito, é coação. É puro oportunismo eleitoreiro. Não existe obrigatoriedade de voto nas maiores democracias ocidentais.
Por sua vez, não existem perspectivas de reformas políticas sérias no curto prazo, tampouco de uma verdadeira revolução no sistema educacional brasileiro.
Como declara Arnaldo Jabor num emocionante artigo que circula nas redes sociais, “ai de ti, Brasil, que não fizeste reforma alguma e que deixaste os corruptos usarem a democracia para destruí-la… Ai de ti, Miami, para onde fogem os ladrões… Ai de vós, “bolivarianos” de galinheiro, que financiais países escrotos com juros baixos, mesmo sem grana para financiar reformas estruturais aqui dentro”.
Da nossa parte, devemos acrescentar mais um detalhe ao exaustivo e contundente texto de Jabor. Com relação à verdadeira sangria que o país vem sofrendo em seu capital social com a debandada de cientistas e especialistas de alto nível para universidades e institutos de pesquisa no mundo desenvolvido. A eles se soma a infinidade de jovens recém-formados e empreendedores, além de um sem-número de desesperados em busca de melhores condições de vida no exterior. Ai de ti, Brasil!
Por Marco Aurélio