OPINIAO JOGO ABERTO : 13/06/2017
Entre a mudança e o retrocesso na vida política nacional.
Mais do que nunca, a política tem-se revelado enquanto dimensão superestrutural das relações sociais. Ditos populares, como “o povo tem o governo que merece” ou “Deus livrou o Brasil de catástrofes naturais, mas o contemplou com gente da pior espécie”, não são totalmente desprovidos de sentido.
A vida política nacional resulta de práticas seculares de malfeitos e abusos de uma elite desde sempre dependente das benesses do Estado, que realimenta, entre todos os segmentos sociais, o jeitinho, a dissimulação, a corrupção e a desconfiança em relação a tudo e a todos.
Em que pesem as pátinas de modernidade, tais como a existência de uma democracia política formal, no fundo, somos mais africanos que ocidentais. Senão, como explicar a passividade frente às práticas mais abjetas de nossos representantes políticos? Práticas que chegam às raias do genocídio, já que subtraem recursos da saúde, da educação, da segurança e da infraestrutura viária, entre outros, perpetuando nossa condição de indigência e de país prestes a mergulhar no Quarto Mundo?
Houve, aparentemente, uma evolução das práticas criminosas, até então mais modestas e restritas a alguns políticos poderosos, para o crime organizado, que, hoje, penetra todos os poros de nossas instituições políticas, jurídicas, econômicas e sociais.
Como explicar a tolerância da sociedade em relação a esses abusos senão pela ignorância, pela indiferença e pela ingenuidade de um povo desprovido dos direitos mais elementares da cidadania civil? E aqui não se trata do “saber votar”, já que mesmo destacados intelectuais, movidos por utopias de antanho, dão apoio explícito a quem já se revelou indigno do voto popular.
Trata-se, na verdade, da inexistência de relações sociais democráticas, fundadas na igualdade e na liberdade, isto é, no acesso à cidadania civil propiciada pelas relações de mercado. Somos uma nação que convive com o mercado, sem sermos uma sociedade de mercado. Esta pressupõe, além da livre concorrência, a igualdade de direitos e deveres, a liberdade de escolha, o acesso ao trabalho formal continuado e a interdependência das distintas funções sociais, bases da solidariedade (ou coesão social) moderna. Tal solidariedade não logrou instalar-se por completo na sociedade brasileira e só se manifesta, de alguma forma, em movimentos de massa esporádicos, cujos impactos tendem a ser minimizados pelas manobras de gabinetes e corredores do poder.
Vivemos um momento de angústia e incerteza quanto ao destino da nação. Este oscila entre o retrocesso e a mudança nas práticas políticas, sem que haja sinais claros da indispensável mobilização social para garantir a continuidade da obra de agentes públicos comprometidos com a contenção do assalto aos cofres da nação e a moralização das instituições públicas nacionais. São essas as condições para a retomada do crescimento econômico e a instauração de uma sociedade de mercado, mais igualitária, mais solidária e efetivamente democrática.
Fonte : Por Marco Aurelio