OPINIÃO JOGO ABERTO: 13/02/2018
Pré-candidatos à Presidência: diversidade já é certo avanço.
O ex-presidente Fernando Collor de Mello, em anúncio que ganhou atenção imediata do país, declarou seu interesse em disputar novamente o cargo que foi ocupado por ele entre 1990 e 1992. A situação condiz com a trajetória de Collor: sempre performático, assustadoramente convicto e ambicioso. A impressão que ganhou destaque, entretanto, a partir da ação de Collor foi mesmo o número e peculiaridade dos postulantes ao Palácio do Planalto: até o momento, são 14 os cidadãos dispostos a empreender campanha presidencial em 2018, todos vinculados a partidos políticos em funcionamento regular.
O primeiro efeito dessa abundância de nomes que se oferecem ao eleitor é, como repercutiu na imprensa no caso de Collor, o desânimo popular em relação ao sistema político. A sensação que parece emanar do povo é a que este vê as regras da política nacional como excessivamente permissivas, liberais a ponto de autorizar que um ícone da corrupção brasileira se sinta confortável para considerar novamente ser presidente. De fato, no campo dos símbolos e imagens, Collor significa um período traumático da história nacional, marcado por grave crise e esperanças perdidas, de maneira que tudo o que for feito por ele terá impacto na mídia e na sociedade. Por isso, vale lembrar que Collor está em seu segundo mandato sucessivo como senador, o que mostra que sua busca por reabilitação política não é necessariamente um fruto do momento turbulento atual.
Uma eleição presidencial com grande número de candidatos não pode ser vista obrigatoriamente como sinal de falência do sistema político. Por exemplo, no contexto bipartidário da política norte-americana, existe uma expectativa crescente de que surjam mais opções viáveis ao eleitor. O processo de filtragem de pré-candidatos pelos dois grandes partidos ianques, conhecido como “eleições primárias”, descarta a diversidade de ideias em cada campo, produzindo polarização que impede o debate e frustra o eleitorado.
Sob esse critério, o cenário pré-eleitoral brasileiro não parece tão ruim, uma vez que pesquisas de opinião não indicam a concentração de votos em dois postulantes polarizados. Dentro do contexto tradicionalmente homogêneo das ideias políticas nacionais, surge em 2018 certa diversidade entre as plataformas até agora apresentadas pelos pré-candidatos.
PT e PSDB prometem o resgate dos anos dourados de seus respectivos governos, em discursos semelhantes que apelam mais para a memória dos eleitores do que para um conjunto claro de medidas. Ciro Gomes busca encarnar a evolução da esquerda, aliando conteúdo técnico ao tradicional discurso social fatalista, enquanto Marina Silva diz estar além dos conceitos de esquerda e direita, focando temas do século XXI. Nos extremos ideológicos, Jair Bolsonaro e Manuela d’Ávila desfilam os estereótipos que conseguiram importar da década de 50, encenando uma simplicidade que os problemas do mundo de hoje não comportam mais.
Dessa forma, incluindo no raciocínio também os candidatos de menor expressão política e partidária, temos que 2018 foi percebido pelos políticos como momento propício para a diversificação de ideias, já que a dicotomia PT-PSDB parece ter dado uma trégua. Diferentemente da sensação que a candidatura de Collor pode inspirar, o cenário atual da disputa presidencial pode ser visto como positivo, pois proporciona ao eleitor um debate mais diversificado do que o das eleições anteriores.
Fonte; Por Marco Aurelio