Opinião Jogo Aberto – 11 de Maio de 2020
Pandemia sem Partido.
Em nosso país, a confrontação e a disputa política ainda não cederam lugar ao entendimento e a concertação.
Ao lembrar da vitória dos aliados, que encerrou um dos períodos mais sombrios de nossa história, estes dias podem servir de reflexão em tempos de pandemia. Em momentos tensos, nos quais a nação possui um inimigo comum, a tendência natural é de união, concertação e convergência, como vimos tanto na guerra que ceifou milhões de vidas diante do nazi-fascismo, quanto neste momento que vivemos, onde o mundo combate uma pandemia.
Nestes períodos, a política cede lugar aos esforços de coalizão, como ocorreu em torno de Churchill enquanto o Reino Unido era bombardeado pelos alemães, assim como a nação americana se uniu em esforços conjuntos no período pós-atentados no início deste século ou como Nelson Mandela unificou as forças políticas sul-africanas sem revanchismo no período pós-apartheid. Todos os povos seguem o mesmo mantra em momentos de crise. É preciso unificar e liderar em esforço conjunto.
A pandemia tem mobilizado diversas nações neste sentido. Com poucas exceções, os mais diversos países do planeta têm agido no caminho de unir esforços e buscar políticas de cooperação, seja no cenário externo, ou de unificação política no plano interno. Líderes de todo mundo tem colocado suas diferenças de lado com o objetivo de combater um inimigo comum.
Em nosso país, ao contrário, a confrontação e a disputa política ainda não cederam lugar ao entendimento e a concertação. Mesmo longe de um processo eleitoral que ainda demorará a chegar em nível nacional, temos enxergado políticos de diversas frentes mais preocupados com o cenário eleitoral do que com o combate sem tréguas diante da pandemia.
O Brasil é um país de dimensões continentais. Ao mesmo tempo que possuímos ecossistemas diferentes em nossas regiões, com o inverno amazônico ocorrendo antes do frio que ainda chegará até a região sul e a seca, que logo depois deve atingir seu pico na região centro-oeste, precisamos entender que a Bahia é do tamanho da França, Mato Grosso do Sul similar à extensão territorial da Alemanha, Minas Gerais é praticamente uma Espanha, São Paulo similar ao Reino Unido e nossa Amazônia é comparável ao tamanho da Mongólia. Isto sem contar a robustez destas economias e a densidade populacional.
Sabemos que a política de contenção do vírus não pode ser a mesma em todo território brasileiro e que o seu impacto será diverso em porções diferentes de nosso território, atingindo o pico em tempo diferente em cada uma de nossas regiões. Não é possível desenhar uma política de combate ao coronavírus no plano nacional sem estarmos sintonizados em ações conjuntas com os estados. Tampouco estes conseguirão sozinhos enfrentar a pandemia sem apoio do governo federal.
O Brasil precisa colocar suas diferenças de lado e agir com prudência em defesa de sua população. O vírus não escolhe ideologia e enquanto nos preocuparmos com as diferenças políticas, nos distanciaremos de uma saída deste problema para nossa nação. Que os auspícios da lembrança do final da guerra, possam nos orientar no sentido correto. Nenhuma nação vence um inimigo comum sem união, coalizão e convergência. A pandemia não escolhe partido.
Por Marco Aurélio