OPINIÃO JOGO ABERTO: 07/03/2017
O EXERCÍCIO DA CIDADANIA
As redes sociais têm exercido em todo o mundo, inclusive no Brasil, um papel relevante na divulgação da pesquisa científica e das inovações tecnológicas. Com rapidez e valendo-se das facilidades que a informática oferece, os fatos podem tornar-se conhecidos simultaneamente na China e em Cabrobó, no sertão pernambucano.
Grandes descobertas e atitudes, as mais louváveis e dignas de serem valorizadas, ganham nas redes sociais, para o alcance dos cidadãos mais comuns, a dimensão de sua importância. Também são registrados fatos, muitas vezes em forma de denúncias, sempre oferecendo aos interessados informações sobre a má atitude, sobre o protecionismo, sobre a inércia de homens públicos que chamaram a si, por suas opções, concursos e candidaturas, a responsabilidade de representar aqueles que lhes confiaram e a seus cargos tais prerrogativas e deveres. Enfim, não há quase nada que possa ficar escondido ou desconhecido sem que as redes sociais ameacem destapar.
Antes, as rádios e as emissoras de televisão se incumbiam sozinhas desse papel, mas não tinham o vigor da interatividade. Hoje, não. Pode ser flagrado o presidente da República fazendo conchavos com seus apoiadores dentro do Palácio do Jaburu, para evitar que a lei o alcance em sucessivas mutretas ajustadas para engrossar o caixa de seu partido – pelo menos é o que dizem ter acontecido. Podem ser ouvidas lideranças mineiras declarando-se desimportantes pelo fato de que nosso Estado não conseguiu emplacar um ministro no governo Temer, quando Estados de muito menor relevância política e econômica têm nesses espaços de decisão nomes de sua confiança e interesse. Podem ser denunciados senadores que ganham a bagatela de R$ 35 mil por mês e dispõem ainda de R$ 16 mil para compra de passagens aéreas, de R$ 6.000 para enviar correspondências (cartas de amor inclusive), de verba para moradia e para a contratação de até 50 assessores, que não precisam justificar presença em seus gabinetes ou comprovar trabalho.
Há outras regalias mais nojentas e escandalosas, como, por exemplo, a aposentadoria definitiva de senadores que exerceram mandatos por 180 dias ininterruptos e que ainda levam consigo plano de saúde para a própria cobertura e a de seus familiares, para o resto da vida. Pelas mesmas redes sociais é que veio à sociedade a informação de que juízes, desembargadores e ministros do Judiciário recebem auxílio-moradia, auxílio-educação para seus filhos de até 24 anos, sem a necessidade de comprovarem a eficiência de seus serviços. Nessa mesma toada, continuam a ser denunciados privilégios de conselheiros dos tribunais de Contas, de membros do Ministério Público, de militares das polícias estaduais e do Exército, que se aposentam com remuneração integral, muitos, antes de atingirem 50 anos de idade.
Como se vê, as redes sociais têm cumprido seu papel, estão ao alcance de todo cidadão e geralmente nada cobram para bem informar. Mas de nada adiantará todo esse esforço de comunicação se a sociedade nada fizer com essas informações, seguir elegendo bandalhos como seus representantes no Legislativo e no Executivo, e se o Judiciário não se investir de sua responsabilidade de guardião da lei. Com celeridade, com isenção, sem medo, sem conchavos e sem interesses menores. Informação e ferramentas a sociedade tem; resta-lhe exercer, com seriedade, a cidadania.
por Marco Aurélio