Gleisi, a presidente de partido que encarna a decadência petista.
Quando a caravana pré-eleitoral do ex-presidente Lula passou por Diamantina, no fim de outubro, a senadora paranaense Gleisi Hoffmann divulgou mais um dos vídeos que vinha gravando para promover o evento.
Entretanto, ao pedir contribuições para o custeio da viagem, Gleisi justificou o pedido pela ausência de “fontes externas” de financiamento para o partido. Independentemente de quais fossem as fontes às quais se referia a senadora, a imagem que certamente vem à mente é a dos esquemas milionários de corrupção que financiavam campanhas políticas, responsáveis por levar três tesoureiros petistas à cadeia.
Mesmo que dezenas de outros partidos sejam sócios nessas ilegalidades, Gleisi fala pela agremiação que preside, e assim causou um dano enorme à imagem do PT, já que, no campo da política, as imagens são um dos ativos mais valorizados.
Essa gafe foi apenas a primeira: logo depois, a senadora imaginou ter visto uma faixa de apoio a Lula na torcida da maior equipe de futebol da Alemanha, apenas para descobrir, em seguida, que os alemães se referiam a um italiano, de nome Luca. No Carnaval, viu em um hit da folia baiana uma homenagem apaixonada a seu partido, quando na verdade a sigla que chamou sua atenção significava “perda total” – expressão que as companhias de seguros atribuem aos veículos acidentados e irrecuperáveis. Por fim, Gleisi compartilhou, em tom de descoberta bombástica, uma foto forjada do juiz Sergio Moro participando de evento patrocinado pelos inimigos clássicos do PT, de partidos adversários a redes de televisão. Alertada da fraude, Gleisi insistiu em sua narrativa persecutória.
A sucessão de erros de Gleisi nas redes sociais, porém, não é tão sintomática da situação que vive o PT quanto suas declarações raivosas na véspera do julgamento de Lula em janeiro. Ao dizer que seriam necessárias muitas mortes para que Lula fosse preso, a senadora não apenas perdeu o tom usual da política no Brasil, como também escancarou a decadência intelectual na qual se encontra seu partido.
Quando a estratégia de defesa jurídica de Lula opta pela politização como forma de pressionar o Judiciário, Gleisi emprega o partido nessa tarefa. Já quando a agressividade passa a ser a tônica, a senadora se torna a mais agressiva dos petistas. Pelas ações de Gleisi, o partido assume graves riscos por um de seus membros, quando o usual em instituições costuma ser o oposto. Com esse comportamento, Gleisi Hoffmann deixa claro que tanto ela quanto a agremiação que preside funcionam hoje como extensão institucional de Lula. Ficou no passado, portanto, o quadro do PT como o campo fértil de dissidências e debates que costumava ser.
Nesse contexto, convém não ver Gleisi isoladamente, como pessoa ou figura política, mas sim como símbolo do processo que a levou ao poder partidário e que, agora, demanda dela esse tipo peculiar de liderança. Essa situação demorou para ser construída, e as doçuras do exercício do governo federal durante 13 anos contribuíram muito para isso, tornando vários petistas adeptos do caminho mais rápido que os levasse de volta ao poder: uma estratégia que só existe a partir do peso eleitoral de Lula.
Portanto, Gleisi Hoffmann e seus rompantes voluntaristas são muito mais resultados da situação petista atual do que protagonistas desse processo. O ser humano Lula, finito e sujeito a limitações como qualquer outro, vai levar o destino do PT consigo, seja quando e para onde for.
Fonte: Por Marco Aurelio
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