Opinião Jogo Aberto – 04 de Julho de 2018
A 90 dias das eleições, as pesquisas eleitorais se sucedem mostrando uma imagem congelada no tempo de um quadro de rejeição e indefinição. Pesquisa após pesquisa, nenhuma mudança aparente ocorre, apesar das movimentações dos postulantes à sucessão de Temer.
A pesquisa Ibope/CNI divulgada na semana passada retrata tudo que já havia revelado o Datafolha no início de junho. Nada mudou significativamente. Tudo no mesmo lugar. Nas investigações espontâneas, em que a pessoa é inquirida sobre em quem votaria, se a eleição fosse hoje, sem que lhe sejam apresentados os possíveis candidatos, mais da metade dos brasileiros não menciona nenhum nome. Nas pesquisas do Ibope, 28% dos entrevistados responderam não saber ou não quiseram se manifestar e, 31% indicaram votar em branco ou nulo.
Nas pesquisas estimuladas, em que uma lista de possíveis candidatos é apresentada, no cenário sem Lula, 41% indicam que votariam em branco ou nulo (33%) ou não quiseram responder (8%). Quando Lula é incluído, esse conjunto de resistência aos candidatos apresentados cai para 28%. Os que votariam em branco ou nulo reduzem para 22%, e os que não quiseram responder, para 6%.
Nas pesquisas estimuladas, apenas Lula (33%) supera o grupo de resistentes. Bolsonaro, que, na ausência de Lula, lidera a pesquisa (17%), não atinge nem mesmo a metade dos que rejeitam as opções apresentadas.
Na pesquisa sobre rejeição aos candidatos, no entanto, apenas 11% dos entrevistados não sabem ou não responderam em quem não votariam. A imensa maioria (89%) rejeita um ou outro candidato. Bolsonaro, Collor e Lula, com rejeição superior a 30%, lideram a lista dos rejeitados, seguidos de Alckmin (22%). Todos os candidatos apresentados têm índice de rejeição superior à de sua escolha nas pesquisas estimuladas.
Nessa imagem congelada, é possível ver que os eleitores continuam desmotivados com o processo eleitoral, indicando sua resistência aos políticos. Rejeição que também é revelada pela insatisfação de 90% dos brasileiros com o governo Temer, recorde desde a redemocratização do país.
A falta de confiança no governo (92%) e sua alta desaprovação, mesmo na área econômica, em que bons resultados foram conseguidos, como na redução da inflação e na política de juros, estão claramente sinalizando a insatisfação com a situação política e, sobretudo, com o comportamento dos políticos.
A crise econômica, a extensão da corrupção e a atitude dos políticos corroeram a confiança e destruíram a esperança dos brasileiros, fazendo florescer o desalento e o pessimismo. Em agosto, a campanha eleitoral estará oficialmente aberta e será a última oportunidade para que os políticos consigam motivar os eleitores neste ambiente de crise e desesperança.
Até lá, o comportamento de Lula, mantendo sua candidatura, paralisa a movimentação dos partidos, as alianças regionais e as estratégias dos outros candidatos, principalmente daqueles que ainda sonham em conquistar a adesão dos eleitores lulistas.
Lula trava, inclusive, as lideranças do centrão, cujo objetivo único é chegar ao governo, aliando-se a quem melhor lhes oferecer essa oportunidade. Não será surpresa se, no improvável cenário da confirmação da candidatura de Lula, partidos do centrão vierem a apoiá-lo em nome da governabilidade. Triste hipocrisia.
Há, enfim, uma completa e profunda dissintonia entre as aspirações e os sonhos da população brasileira e o pragmatismo impregnado de velhas práticas e maldosas espertezas dos políticos.
Por Marco Aurélio