A eleição de 2018 vai ocorrer fora da ‘bolha’ intelectual
Historicamente, o papel dos meios intelectual e universitário é pensar: sua matéria-prima são problemas, e seu produto principal, ideias. Por definição, nem sempre os problemas e soluções discutidos nesses espaços guardam relação clara com o cotidiano da maioria das pessoas. Dessa forma, muitos conceitos e tecnologias que hoje tornam nossa vida mais confortável e pacífica já foram tidos como aberrantes no momento em que surgiram em debates e pesquisas universitárias.
Nessa dinâmica, um isolamento relativo entre o ambiente acadêmico e o restante da sociedade é algo esperado. Porém, quando se trata de ideias que envolvem o Estado e decisões que afetam a vida coletiva, esse descompasso pode ser turbulento: afinal, a maioria que sofrerá as consequências das políticas não compreende – ou não aprova – a lógica ou os valores predominantes no meio acadêmico.
Dessa forma, aquilo que os intelectuais acreditam ser o melhor para a população pode não ser o que a própria população prefere para si: essa discordância pode ocorrer porque os pensadores não conseguiram captar corretamente o raciocínio popular, ou mesmo porque acreditam saber mais sobre o povo do que este sabe sobre si mesmo.
Essa situação se torna mais problemática quando, em uma democracia, candidatos e estruturas partidárias devotam mais atenção aos acadêmicos do que à voz das ruas. Uma das maiores dificuldades da gestão pública é conseguir equilibrar essas duas influências na medida adequada, uma vez que ambas são necessárias para se formar um governo que seja tanto eficiente quanto representativo.
No atual contexto pré-eleitoral nacional, faz sentido pensar que o dilema entre as opiniões popular e acadêmica se encontra em alta. A intimidade entre o pensamento universitário brasileiro e o PT existe há décadas, e tem sido responsável em larga medida pelos planos e bandeiras ideológicas que esse partido leva para as urnas e para seus governos.
Muitas medidas de sucesso derivaram dessa relação, mas também um linguajar próprio e um conjunto de valores e propostas que estão muito distantes da forma como pensa a maioria dos brasileiros. Um exemplo é a questão religiosa e seus tabus culturais e comportamentais: mesmo sendo o Brasil um país essencialmente apegado à fé, o direcionamento das gestões petistas geralmente aborda tal perspectiva como retrógrada. Encontrar um consenso sobre temas como o aborto, por exemplo, seria bastante difícil, mas com certeza indispensável para preservar a viabilidade eleitoral do PT.
Hoje, é patente que Jair Bolsonaro já percebeu que a linguagem das ruas diverge muito do discurso petista, e o deputado explora esse filão diariamente. Outros candidatos presidenciais podem vir a adotar essa tática, uma vez que se nota nas periferias e pelo interior do Brasil, há anos, uma carência de identificação entre o linguajar do poder e o dia a dia das pessoas. Por enquanto, o PT parece não ter se apercebido disso, e continua analisando o Brasil no isolamento do universo acadêmico-intelectual. Sinal disso foi o lançamento recente da candidatura, ao governo do Estado do Rio de Janeiro, da exótica filósofa Marcia Tiburi, dona de opiniões escandalosas para o brasileiro médio.
A farta conjuntura econômica, que no passado ajudou a população a relevar as peculiaridades do discurso petista, hoje não deve cumprir mais esse papel, o que pode levar o PT a uma derrota ainda maior do que a sofrida em 2016.
Por Marco Aurélio
Deixe um comentário