O sucesso de horticultores que apostaram na hidroponia
Cultivar em pequenas áreas, utilizar baixa quantidade de defensivos agrícolas, ter pouca preocupação com a presença de pragas, colher vegetais limpos durante o ano inteiro e manter o uso racional de água. Os produtores de Rondônia descobrem cada vez mais o pacote completo da produção sustentável de hortaliças: a hidroponia.
Conhecida por ser um sistema que dispensa o uso do solo, a hidroponia é uma técnica que vem se consolidando como uma excelente opção para pequenos investidores do campo e até da cidade. A alta produtividade gerada com o uso da tecnologia garante a oferta de belos pés de alface, rúcula, couve, agrião, espinafre, salsinha e outros artigos do gênero nas gôndolas dos mercados.
Além de sustentável, a prática é econômica. Exige menor utilização de mão de obra e exclui os custos com gradagens e manejo de pragas e ervas daninhas. Como independe de terra, as áreas de produção podem ser implantadas mais perto do mercado consumidor. Insetos e microrganismos, como fungos, também costumam importunar menos e, por isso é também menor a necessidade de defensivos. O serviço na lavoura exige pouca força física e vem despertando a atenção da mão de obra feminina. O contraponto: a implantação do sistema hidropônico exige investimento maior que o dispensando a uma horta convencional.
A técnica tem atraído empreendedores sem tradição no campo. Um contador de Ji-Paraná e um dono de uma sorveteria em Ouro Preto do Oeste investiram nessa opção de cultivo. Montaram os canteiros hidropônicos e colhem não apenas bons produtos, mas boas margens de lucro.
Bem próximo à área urbana do município de Ji-Paraná está o sítio do Nilson Rodrigues dos Santos, formado em Ciências Contábeis e dono de um tradicional escritório na cidade. Inicialmente, a intenção era implantar uma horta diferenciada, livre de pragas e de fungos para consumo próprio, mas ele decidiu levar o plano adiante, para a pequena propriedade onde aplicou os conhecimentos obtidos em um curso feito anos atrás. Logo concluiu pela viabilidade comercial do empreendimento e resolveu dobrar a área plantada inicial de 600 metros quadrados. O capricho e os cuidados com os detalhes fizeram a diferença: a produtividade de alfaces, e depois as rúculas, chegou aos 600 maços por dia, venda garantida a restaurantes, mercados, lanchonetes e pizzarias da cidade. “Eu procurei fazer da melhor maneira. Os tubos de PVC que conduzem a água são especiais. Toda a área plantada é fechada por telas e eu fiz um poço artesiano para garantir o abastecimento hídrico e nunca ter surpresas”, explica Nilson.
Nos últimos dois anos os lucros foram tão satisfatórios que o permitiram construir uma bela casa para ele, outra para o caseiro e ainda investir numa pick-up nova em folha para o transporte da produção. Atualmente ele emprega duas pessoas apenas (Micheli Santos e Laércio), que fazem o manejo diário dos quase 17 mil pés de alface e rúcula, a embalamento para conservar a raiz fresca e as entregas.
Animado com os resultados, o empregado José Alves Teixeira, que precisou se mudar de Ji-Paraná por motivos familiares, montou com o irmão em Ariquemes, numa data de 24m x 28 cm uma hidroponia nos mesmos moldes. Vai indo muito bem. “Fiz um financiamento no Banco do Brasil de R$ 69 mil há seis meses e comecei o meu negócio. Por enquanto já tenho quatro galpões, mas já estamos planejando fazer mais dois para dar conta da demanda”. Ele acrescenta que decidiu se estabelecer em dezembro, no começo das águas por um motivo que a hidroponia pode resolver. “Eu tinha certeza que com o excesso de chuva ia faltar verdura no mercado. Foi dito e certo. A gente foi logo vendendo toda a produção, desde o começo”, frisa.
Landoaldo Gonçaves Rocha é proprietário de uma sorveteria bem localizada em Ouro Preto do Oeste, em frente à igreja matriz. Há oito anos, encorajado pelo cunhado, decidiu montar num terreno próximo uma horta hidropônica para o pai, o seu Rosalvo, hoje com 83 anos. Munido de informações que coletou na internet e com outros amigos, partiu para a construção do canteiro com as próprias mãos e a ajuda inestimável da esposa Sueli. Ali eles cultivam seis variedades de alface, rúcula, couve, mostarda, agrião, espinafre, couve-flor, que expõem numa banca na frente da sorveteria. E vendem tudo, com exceção da mostarda, que é adquirida pelo Supermercado Irmãos Gonçalves. Em vez de um poço artesiano, ele optou por construir uma grande caixa de 4.500 litros para abastecer o sistema que irriga as duas mil plantas da produção, numa área de 15m x 30m apenas. “Como dá pouco trabalho, a gente consegue conciliar muito bem com a sorveteria. E é lucrativo. Para cada mil reais investidos numa horta assim, a gente tira R$ 200,00 de despesa. O resto é lucro”, declara.
A qualidade da água exige muitos cuidados e é o calcanhar de Aquiles de uma cultura hidropônica. Para isso, o produtor precisa estar sempre de olho no teor de alcalinidade e de acidez, o que é feito a partir de correções constantes com testes e adição de produtos próprios. O entupimento das calhas também costuma dar alguma dor de cabeça, mas pouca, garante o casal de agricultores. O desafio agora é ajudar a irmã Míriam a ampliar a hidroponia dela nos arredores de Cuiabá. “Ela está vendendo toda a produção e vamos montar mais três barracões lá”, completa Landoaldo Rocha.
Fonte: rondoniagora