O que deu errado #1: ex-Corinthians e Avaí, goleiro Renan explica fim de carreira
A primeira vez de Neymar foi também a primeira (e única) de Renan na seleção brasileira.
Jovem destaque do Avaí em 2010, o goleiro foi vendido ao Corinthians no ano seguinte, entrou em campo apenas três vezes, frustrou-se e, em 2016, há quase quatro anos, largou o futebol.
Mas, afinal, o que deu errado? Essa é a pergunta feita pelo GloboEsporte.com neste novo quadro, que tem o ex-jogador como estreante. Hoje aos 29 anos e atuante no ramo da construção civil em Santa Catarina, ele usou um pouco de sua quarentena para refletir sobre as decisões que tomou na vida.
– Tenho um pensamento que a oportunidade não manda recado, você tem que estar pronto para ela. Falo isso a toda criança com quem converso. O que ficou marcado pra mim foi: esteja pronto para a oportunidade, em qualquer profissão. Ela não manda recado – disse Renan.
Julio Cesar e Renan, goleiros do Corinthians em 2011 — Foto: Rodrigo Coca/FotoArena
Abaixo, confira a entrevista com o ex-goleiro:
GloboEsporte.com: Por que optou por parar de jogar futebol?
Renan: Parei com 25 anos, em junho de 2016, quando acabou meu contrato com o Corinthians, a quem sou muito grato. Meu pai trabalha há 40 anos na área da construção civil e eu já tinha o projeto de entrar também. Algumas coisas não fluíram no futebol e desde o começo eu tinha intenção de ir para esse ramo. Então tomei essa decisão.
Você teve um início de carreira muito promissor no Avaí, né? Como foi esse começo?
– Foi um começo muito promissor no Avaí. Cheguei numa Copa São Paulo em 2009 com um dos melhores elencos da base do Avaí e sabíamos que dava para ir longe. Fomos semifinalistas, acabamos perdendo para o Corinthians, mas foi histórico. E fui um dos destaques. Cheguei ao profissional, o que me marcou foi um Avaí x Figueirense pelo time B dentro do Orlando Scarpelli em que ganhamos por 2 a 0 e fui um dos destaques, ainda em 2009, então começaram a me ver diferente. Em 2010 comecei a jogar na pré-temporada, joguei três jogos do Catarinense e fui bem. Ali começou, depois joguei as finais entre Joinville x Avaí e a gente foi campeão na Ressacada. Foi uma coisa muito rápida.
Renan pelo Avaí ainda em 2010 — Foto: Petra Mafalda / Gazeta Press
Você foi o primeiro jogador da história do Avaí convocado para uma seleção brasileira principal. Imagino que isso te traga orgulho até hoje…
– Meu primeiro jogo pelo Avaí foi contra Cruzeiro, no Mineirão. O Zé Carlos, que era o goleiro, foi expulso, e eu entrei. Depois da parada da Copa, lembro que vencemos o Vasco pelo Brasileirão, um time com Philippe Coutinho, Léo Gago, Diego Souza, foi meu segundo jogo, e dali fiz mais uns sete ou oito e já fui chamado para a Seleção. A seleção brasileira não tem nem o que falar, ainda mais com o sentimento de chegar por um time de menor expressão como o Avaí.
Em 2011 você é vendido ao Corinthians com apenas 20 anos. Foram três jogos e muita frustração. Como considera esse período?
– Foi uma experiência boa e ruim. Eu acreditava que poderia ter sequência, um ano bom, jogando. Cheguei no Corinthians e não fui jogar direto, o Julio Cesar estava bem, saiu apenas por lesão, aí joguei três jogos, mas não foi o esperado, a equipe teve queda de rendimento, vinha há 11 jogos sem perder. Todo lado tem um aprendizado, a gente amadurece a cada dia, não esperava acabar em terceiro ou quarto goleiro, mas sim jogando. Acho que as pessoas aproveitaram melhor a oportunidade (Danilo Fernandes e Julio Cesar). Fomos campeões brasileiros, não me arrependo de nada, mas foi um aprendizado muito grande. Eu não correspondi ao que todos esperavam: torcida, imprensa e clube.
Goleiro Renan com Tite no Corinthians, em 2011 — Foto: Daniel Augusto Jr/FotoArena
Foram cinco gols sofridos em três jogos. O primeiro num chute de Wallyson do meio da rua (derrota por 1 a 0 para o Cruzeiro). Depois foram três contra o Avaí (derrota por 3 a 2) e um na vitória por 2 a 1 contra o América-MG, esse numa falha bem evidente…
– Sempre respeitei todos os treinadores e acatei a ordem deles. Contra o Cruzeiro, Tite me pediu para jogar um pouco adiantado e joguei, não foi falha, foi mais mérito do Wallyson, mas perdemos o jogo e no Corinthians tudo é mais. Contra o América-MG tive uma saída errada em que trombei com Leandro Castán, e contra o Avaí não vejo falha em nenhum dos gols. Mas a expectativa era muito grande no Renan, esperava-se melhor desempenho. Acho que eu podia ter tido uma sequência maior.
Depois do título brasileiro você é descartado e passa por vários empréstimos até o fim do contrato, em 2016 (Vitória, Estoril-POR, Guarani, Botafogo-SP, Bragantino, Caxias e Tigres-RJ). Afinal, o que deu errado?
– Não posso reclamar nada do Corinthians, que sempre honrou e me deu respaldo – só no último ano que tivemos um desentendimento, mas faz parte. Aprendi muito. No empréstimo para o Vitória, entrei numa crescente muito boa e tinha grandes chances de ir para as Olimpíadas de Londres de 2012. O treinador era o Toninho Cerezo, e eu estava jogando quase como um líbero, estava muito bem, mas tive uma lesão faltando 60 dias para os Jogos de Londres, rompi o ligamento cruzado posterior do joelho esquerdo. Voltei em 30 dias, mas não deu tempo. Isso me abalou um pouco, tinha o projeto de jogar as Olimpíadas e já procurar um futuro na Europa, mas infelizmente não aconteceu e não consegui retomar ao time titular do Vitória, isso me abalou bastante. Eu estava num momento muito bom antes da lesão.
Renan pelo Botafogo-SP em 2013 — Foto: Rogério Moroti/Ag. Botafogo
Isso te abalou psicologicamente a ponto de prejudicar o seu desempenho dali para frente?
– Nunca me abalei psicologicamente, sempre tive a minha família do lado. Minha esposa, minha mãe, meus pais, empresários. Acredito que eu deveria ter mudado minhas escolhas em relação a times. Eu podia ter ido para um time de menor expressão para ter uma sequência. Um dos meus erros foi sair do Vitória e ir para o Estoril do Portugal, onde não tive oportunidades. Foi um dos grandes erros da carreira. Pessoalmente foi uma experiência maravilhosa, convivi com outro povo, mas eu voltaria atrás, não teria ido para a Europa em 2012.
Qual foi o seu dia mais feliz em todo esse processo?
– Foi quando me falaram que tinham quatro ou cinco clubes atrás de mim (ainda no Avaí). E eu, com 19 anos, assinando um contrato que todo mundo sempre sonha, indo para um grande centro e tendo oportunidade. O dia mais feliz, tirando o da convocação, foi quando pude ajudar meus familiares (financeiramente) assinando um contrato com o Corinthians.
Nota da Redação: Renan foi comprado pelo Corinthians em 2011 por R$ 5 milhões.
E nos dias mais tristes no Corinthians, quem do clube foi te estender a mão?
– O Julio Cesar me dava bastante conselho, eu sempre ligava para o meu empresário. O Duílio (Monteiro Alves, hoje novamente diretor de futebol) sempre foi aberto comigo, tinha bastante gente. Aquele Corinthians 2011/2012 sempre foi uma família, então todo mundo tentava ajudar. O próprio Emerson (Sheik) dava conselhos bons. Eu tinha minha esposa do lado, minha mãe me dava suporte, mas a verdade é que ninguém esperava que fosse sair com tão poucos jogos do time profissional.
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