Nadadores dos EUA alegam que história de assalto foi inventada por Lochte
Os nadadores americanos Gunnar Bentz e Jack Conger disseram, segundo informações de fontes policiais, que a história de assalto à mão armada foi fabricada por Ryan Lochte, informa a agência “Associated Press (AP)”.
Segundo a AP, um funcionário da polícia disse, em condição de anonimato, que Conger e Bentz revelaram que a história de roubo tinha sido inventada. Lochte, primeiro, teria mentido sobre o roubo à sua mãe, Ileana Lochte, que em entrevista tornou público o suposto assalto. A partir daí a história ganhou grande repercussão.
Os dois atletas foram impedidos de embarcar para os Estados Unidos na noite da última quarta-feira para esclarecimentos sobre o polêmico caso que teve uma reviravolta nesta quinta, com representantes da polícia dizendo terem desconstruído a versão apresentada na última segunda-feira. Os dois prestam depoimento na Polícia Civil do Rio de Janeiro nesta tarde.
A investigação aponta que, na verdade, os quatro nadadores americanos (os três citados mais James Felgen) se envolveram em uma briga em um posto de gasolina. Imagens de uma câmera de segurança revelam que eles estavam alcoolizados e provocaram estragos no local. Para os investigadores, não houve assalto.
Ryan Lochte já não está mais no Rio de Janeiro. Os nadadores, que mudaram a versão do incidente pelo menos quatro vezes, podem ser acusados por falsa comunicação de crime. A pena para esse tipo de infração varia de 1 a 6 meses de detenção ou multa.
Relembre o caso passo a passo
A Versão inicial
Toda a polêmica teve início quando Lochte, na segunda-feira, revelou que ele e os três outros atletas (Gunnar Bentz, Jack Conger e Jimmy Feigen) foram assaltados à mão armada quando estavam voltando na madrugada anterior para a Vila Olímpica após passarem a noite em uma festa na casa de hospitalidade do time olímpico da França. O táxi teria sido parado por apenas um assaltante, se passando por policial, que teria lhe apontado a arma na cabeça. O nadador norte-americano disse que teve dinheiro (US$ 400) e carteiras roubados, ficando apenas com o celular e as credenciais da Rio-2016.
Porém, desde o início causou estranheza o fato de Lochte ter comunicado o crime apenas no final da tarde de segunda-feira, sendo que o suposto assalto ocorreu na madrugada. A sua mãe, Ileana Lochte, foi a primeira a falar publicamente sobre o assunto em uma entrevista pela manhã a uma emissora americana. O nadador alega que demorou a oficializar o ocorrido porque tinha medo de “estar encrencado” por ter ido a uma festa durante a madrugada e ter ingerido bebidas alcoólicas, o que seria passível de punições junto ao comitê americano.
Repercussão e detalhes
A declaração de que havia sido assaltado à mão armada na cidade olímpica provocou grande repercussão mundial e deixou Lochte em evidência. O nadador passou a conceder entrevistas em que contou mais detalhes sobre o ocorrido. Talvez na mais dramática das declarações, ele disse que se recusou deitar no chão e teve a arma apontada contra a sua cabeça.
“Eles sacaram as armas e disseram aos outros nadadores para deitarem no chão – e eles deitaram. Eu me recusei. Eu pensei ‘não fizemos nada errado, então não vou me deitar no chão”, disse.
A história chocou até delegações de outros países. A Austrália, por exemplo, proibiu seus atletas de irem para a praia durante a noite no Rio de Janeiro.
O Comitê Organizador da Rio-2016 pediu desculpas pelo ocorrido “Sentimos muito pela violência que chegou tão perto dos atletas. Esperamos que todos estejam seguros em todas as partes da cidade e pedimos desculpa a esses envolvidos”, disse o diretor de comunicação Mario Andrada.
Depoimento revelado e primeiras contradições
Na terça-feira, dois dias depois do ocorrido, o UOL Esporte teve acesso ao que foi dito pelo atleta em depoimento. Ele afirmou que os assaltantes roubaram US$ 400 (cerca de R$ 1,3 mil).
Na declaração à polícia, Lochte reafirmou que o grupo foi parado em uma falsa blitz e que foi abordado por mais de um assaltante, diferentemente do que foi dito à polícia por Feigen, que apontou apenas um na cena do crime. Lochte não conseguiu descrever o tipo físico dos homens, nem soube indicar o formato do distintivo dos falsos policiais no assalto.
Lochte confirmou ainda que uma arma foi apontada para sua cabeça e que foi o último a se deitar no chão após ordem dos assaltantes. O atleta norte-americano não soube dizer o local onde ocorreu o assalto, nem descrever informações sobre o taxista que conduzia o grupo no momento em que foram abordados.
Depois de ouvir o depoimento de Lochte e dos outros nadadores, a polícia passou a procurar os dois taxistas que teriam conduzido os atletas antes e depois do assalto. Até um perfil foi traçado pela polícia para o assaltante: “porte atlético, cabelo escuro e barba feita. Moreno claro, aparentava entre 30 e 40 anos e vestia uma calça preta e camisa cinza, por baixo de jaqueta preta”.
Vídeo e desconfiança da polícia
Na noite de terça-feira, a Polícia deu os primeiros indícios de que desconfiava da versão dos nadadores. Uma fonte da polícia disse à agência AP que Lochte, Bentz, Conger e Feigen não foram capazes de fornecer “detalhes-chave” do caso nos depoimentos. Além disso, os investigadores não encontraram o motorista do táxi ou qualquer outra testemunha.
No mesmo dia, um vídeo obtido com exclusividade pelo tabloide britânico Daily Mail mostrou o retorno de Ryan Lochte e dos demais nadadores à Vila Olímpica na manhã do último domingo. Pelas imagens, percebe-se que Lochte deixa celular e credencial em uma bandeja antes de passar pelo detector de metais. Os nadadores riam e brincavam entre sim, em uma cena que em nada poderia ser associada a quem tinha acabado de ser assaltado.
Busca de passaporte e retenção de nadadores no Brasil
Na quarta-feira, a polícia cumpriu um mandado de busca e apreensão dos passaportes de Ryan Lochte e James Feigen. Os policiais, no entanto, não conseguiram cumprir os mandados, visto que nenhum dos dois estava no local. Lochte tinha deixado o país um dia antes, mas segundo a emissora NBC, Feigen continuava no país
Na justificativa, a polícia disse não querer que os americanos deixassem o país até que o caso fosse resolvido, pois gostariam que ele fosse melhor explicado no intuito de prender os eventuais autores do crime. No decorrer das investigações, porém, surgiram indícios de que os nadadores poderiam ter mentido em seu depoimento, o que já se trata de comunicação falsa de crime, com pena prevista de um a seis meses de detenção e multa.
Mais tarde, os nadadores Gunnar Bentz e Jack Conger foram impedidos pela Polícia Federal (PF) de deixarem o Brasil Os dois tentavam embarcar para os Estados Unidos do Aeroporto Internacional Antônio Carlos Jobim, mas foram levados pelos agentes para a delegacia civil no aeroporto.
Mais incoerências
Em uma entrevista à “NBC” nesta quinta-feira, Lochte revelou uma história um tanto diferente da qual denunciaram ele e outros três nadadores, Desta vez, ele afirmou que o assalto não aconteceu quando voltavam de táxi para a Vila Olímpica, como tinham contado inicialmente, mas sim em um posto de gasolina.
“Eles foram até o banheiro do posto de gasolina. Voltaram ao táxi e pediram para que o motorista seguisse viagem, mas ele não se mexeu”, explicou o jornalista Matt Lauer, da “NBC”, que conversou com Lochte. “Foi então que dois homens os abordaram com pistolas e distintivos da polícia”, acrescentou.
Inicialmente, os quatro nadadores disseram que homens armados se passaram por policiais e obrigaram o táxi, no qual retornavam de uma festa por volta das 4h, a parar.
A outra incoerência revelada pela “NBC” a respeito a história original contada pelos nadadores seria que Lochte não teria ficado com uma arma na cabeça, mas que os supostos ladrões teriam apenas apontado a pistola.
Polícia diz que desconstruiu história
Representantes da Polícia Civil do Rio de Janeiro disseram que a narrativa dos americanos foi “desconstruída”. Análise de imagens de uma câmera de segurança revela que os nadadores estavam alcoolizados e se envolveram em uma briga em um posto de gasolina.
Para os investigadores, não houve assalto. “A história deles é praticamente desconstruída pela análise das imagens que obtivemos agora”, declarou Alexandre Braga, titular da Deat (Delegacia Especial de Atendimento ao Turista), em entrevista ao telejornal “RJTV”, da “TV Globo”.
Com informações da BBC e das agências EFE, AFP e Reuters